ECLESIASTES 12
1. “Lembra-te do
teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias”. A
exortação aqui tem o sentido daquela:
“Se, hoje, ouvirdes
a sua voz, não endureçais os corações” (Sl 95.7,8; Hb 3.7,8; 4.7).
Diante da brevidade
da vida, é conveniente aproveitar a juventude mantendo harmonia com as
determinações do Criador.
Os “maus dias” são
de angústia, de calamidade, alheios ao prazer. A mocidade não pertence ao moço,
mas ao Criador. Salmos 100.3
(ARA) diz: “Sabei
que o Senhor é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e
rebanho do seu pastoreio”. Agradar a Deus prolonga a alegria até a velhice.
2. ‘Antes que se
escureçam o sol... e a lua, e as estrelas” .Esses astros representam a
prosperidade. Se deixarem de iluminar, anunciam prejuízo, decadência e fracasso:
“E tomem a vir as nuvens depois da chuva”. Nuvens lembram trevas ou escuridão,
que no Antigo Testamento quer dizer incapacidade de desfrutar alegria, tristeza,
infelicidade.
Depois de uma chuva
que trouxe colheita e lucro, vêm outras nuvens com inundação, prejuízo e
calamidade. A velhice é comparada a uma situação em que já houve tempestade e
vêm mais nuvens e inundações.
3. “... tremerem os
guardas da casa”. As mãos e os braços protegem o corpo. São esses guardas que
pela velhice chegam a tremer (Gn 49.24). “E se curvarem os homens fortes”
refere-se às pernas e aos joelhos, que se encurvam pela idade. “Cessarem os moedores”
são os dentes que vão caindo. “... os que olham pelas janelas”. Esses são os
olhos que escurecem, ficam mais fracos com
o tempo.
4. “... as duas
portas da rua se fecharem”. Faltando os dentes, os lábios se fecham mais para a
mastigação. O salmista pede que o Senhor guarde essas portas. “Põe, ó Senhor,
uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141,3). “Baixo
ruído da moedura” também se traduz assim: “No dia em que não puderes falar em
alta voz”. Sem os dentes, o barulho da mastigação diminui, “...se levantar à
voz das aves”. Os velhos se levantam cedo, quando
os passarinhos
cantam e eles não dormem mais: “... todas as vozes
do canto se
baixarem”. Os órgãos ligados ao canto ficam mais fracos: a voz e o ouvido.
5. “... temeres o
que é alto e te espantares no caminho” (ARA).
A pessoa idosa tem
medo de subir ladeiras e, mesmo no plano, a distância parece grande para o
velho. “... florescer a amendoeira”.
A amendoeira, no
Oriente, floresce quando as outras árvores não têm flor, e suas flores são alvas.
A amendoeira fica branca, quando as árvores são escuras com a folhagem verde. O
velho com os cabelos brancos no meio dos jovens parece com a amendoeira. “...0
gafanhoto for um
peso”. 0 idoso, com a espinha curva, a cabeça alva, os braços e as pernas mais
finas, joelhos arqueados e apófise aumentada, era comparado ao gafanhoto.
A figura do
gafanhoto ilustra o peso e o desgosto trazidos pela velhice. “Vai à sua eterna
casa” refere-se ao outro mundo. “... perecer o apetite” entende-se como falta
de satisfação ou paz na vida. “... os pranteadores rodeando a praça” são os
lamentadores profissionais que choravam diante de um morto para ganhar dinheiro
(Jr 9.17;
Mc 5.38). Também
podem ser os parentes desejando que o velho morra para se apossarem da herança.
6. “Cadeia de
prata... e... copo de ouro”. Essa figura lembra a extensão da vida. Havia naquele
tempo um tipo de lâmpada pendurada por um cordão. Quando se partia o cordão, a
lâmpada caía e se apagava. Partindo-se o fio da vida, o homem desaparece deste
mundo, “...se despedace o cântaro junto à fonte e... a roda junto ao poço”.
Todas essas ilustrações descrevem o fim dessa vida.
7. “E o pó volte à
terra... e o espírito... a Deus, que o deu”. “Pó” é o corpo decomposto (Gn
3.19), “espírito”, parte imaterial, a imortalidade. Na morte, há uma separação
entre o corpo e o espírito (Lc 16.22,23; At 7.59; Fp 1.23). O espírito no homem
é o princípio
de vida e
inteligência. Quando se separa do corpo, este se transforma em pó. Nesse verso
volta a idéia do que vai “para cima” e “para baixo” mencionado em 3.21, ou o outro
contraste entre “terra” e “céu” em 5.2.
O Novo Testamento
ajuda a compreender o destino do homem mediante a obra de Jesus Cristo. Paulo
diz em 2 Timóteo 1.10: “... nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte
e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho”.
8. “Vaidade de
vaidades”. A referência à velhice e à mente faz o Pregador voltar ao sentimento
do começo do livro (1.2). A tese começada antes chega agora ao seu fim. A
decadência física e a volta do corpo ao pó da terra são argumentos fortes para
advertir os homens que se lembrem da preparação para a eternidade.
9. “O Pregador,
além de sábio, ainda ensinou ao povo o conhecimento” (ARA). Ensinou bem porque
apresentou os deveres para com Deus. “Compôs três mil provérbios” (1 Rs 4.32).
Essa palavra “provérbio”, do hebraico masal, tem muitos sentidos, podendo ser
“máxima, enigma, parábola, comparação” etc.
Nesse verso, “o
sábio ensinou ao povo” representa a parte oral, e “compôs provérbios”
representa a parte que escreveu.
10. “Procurou...
palavras agradáveis”. Tomou interesse em deleitar os ouvintes e transmitir a
verdade estimulando o bom procedimento. Seu desejo é adaptar sua palavra à
realidade da vida.
Finalmente,
escreveu e falou usando de retidão. Reuniu em seu ensino a verdade, realidade
das coisas, um modo agradável que deliciasse os ouvintes e leitores, e usou de
toda a honestidade.
11. “As palavras
dos sábios são como aguilhões, e como pregos bem fixados as sentenças coligidas”
(ARA). ‘Aguilhões” eram varas de ponta usadas para castigar os bois no
trabalho. “Pregos”—peças de ferro ou de outro metal usadas para fixar as partes
dos móveis e outros utensílios. “Sentenças coligidas” são lições preparadas por
mestres para transmitirem o ensino aos alunos. Nesse verso há um paralelismo
definindo as palavras dos sábios com três ilustrações.
São como
“aguilhões...” como “pregos...” e como “sentenças coligidas”.
“Dadas pelo único
Pastor”. Esse título só pode ser dado a Jesus Cristo. Tem havido muitos pastores
bons e maus; porém, falando do único, só Jesus Cristo merece o título. Em 1
Pedro 5.2-4, ele é “o Sumo Pastor”. A sabedoria de Deus inspirou os autores das
Escrituras Sagradas para formarem um tratado único. A lição transmitida por um
servo de Deus não é somente de aplicação pessoal, mas serve para completar a
unidade da revelação.
12. “Não há limite
para fazer livros”. As produções humanas são incontáveis, especialmente na produção
de livros. Os escritos mais antigos eram gravados em placas de barro, depois em
papiro, uma espécie de papel formado de uma planta, em seguida usaram pergaminhos
que eram de couro. Salomão, conhecendo a grande quantidade de escritos do seu
tempo, podia dar testemunho de que não há limite para fazer livros. “O muito
estudar enfado é da carne”. Quem estuda demais sem cuidar da saúde do corpo
pode até morrer antes do tempo.
Se alguém estuda os
escritos dos homens buscando a paz e a felicidade, chega à decepção (1.18). A
palavra “carne” quer dizer fraqueza, limitação física, energia do corpo.
13. A conclusão do
livro é: “Teme a Deus e guarda os seus mandamentos”. É o antídoto contra o
seguir a vaidade e o andar sem Deus (7.16,18). 0 temor de Deus é o
reconhecimento do seu poder e sua justiça (3.14). É o princípio da sabedoria
(Sl 111.10; Pv
1.7; 9-10) e é
também o fim, a conclusão de todo o ensino do
Pregador no livro
de Eclesiastes. “Este é o dever de todo homem”. A finalidade desta vida é temer
a Deus. Quem ainda não aprendeu essa lição está perdido neste mundo.
14. “Deus há de
trazer a juízo toda obra”. O juízo de Deus revelará a vaidade dos ímpios e o valor
da obediência à Palavra de Deus: “... até tudo o que está encoberto”. Os pecados
não confessados são conhecidos por Deus e serão julgados no dia determinado
para isso. O Deus anunciado pelo Pregador combina a graça (2.24; 9-7-9) com o
julgamento (11.9; 12.14).
Temos visto em
comentários de autores não evangélicos que o fato de o livro de Eclesiastes terminar
com a palavra “mau” não soaria bem. Dizem eles que os que copiarem ou
comentarem esse livro devem repetir o verso 13 depois do 14 (também Isaías, Malaquias
e Lamentações terminam com uma palavra desagradável). Achamos, porém, que se o
original, o texto hebraico que recebemos dos judeus, termina com essa palavra,
devemos aceitá-la, porque ela completa uma sentença que expressa à revelação de
Deus.
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