sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

LEMBRA-TE DO TEU CRIADOR


ECLESIASTES 12
1. “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias”. A exortação aqui tem o sentido daquela:
“Se, hoje, ouvirdes a sua voz, não endureçais os corações” (Sl 95.7,8; Hb 3.7,8; 4.7).
Diante da brevidade da vida, é conveniente aproveitar a juventude mantendo harmonia com as determinações do Criador.
Os “maus dias” são de angústia, de calamidade, alheios ao prazer. A mocidade não pertence ao moço, mas ao Criador. Salmos 100.3
(ARA) diz: “Sabei que o Senhor é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio”. Agradar a Deus prolonga a alegria até a velhice.
2. ‘Antes que se escureçam o sol... e a lua, e as estrelas” .Esses astros representam a prosperidade. Se deixarem de iluminar, anunciam prejuízo, decadência e fracasso: “E tomem a vir as nuvens depois da chuva”. Nuvens lembram trevas ou escuridão, que no Antigo Testamento quer dizer incapacidade de desfrutar alegria, tristeza, infelicidade.
Depois de uma chuva que trouxe colheita e lucro, vêm outras nuvens com inundação, prejuízo e calamidade. A velhice é comparada a uma situação em que já houve tempestade e vêm mais nuvens e inundações.
3. “... tremerem os guardas da casa”. As mãos e os braços protegem o corpo. São esses guardas que pela velhice chegam a tremer (Gn 49.24). “E se curvarem os homens fortes” refere-se às pernas e aos joelhos, que se encurvam pela idade. “Cessarem os moedores” são os dentes que vão caindo. “... os que olham pelas janelas”. Esses são os olhos que escurecem, ficam mais fracos com
o tempo.
4. “... as duas portas da rua se fecharem”. Faltando os dentes, os lábios se fecham mais para a mastigação. O salmista pede que o Senhor guarde essas portas. “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141,3). “Baixo ruído da moedura” também se traduz assim: “No dia em que não puderes falar em alta voz”. Sem os dentes, o barulho da mastigação diminui, “...se levantar à voz das aves”. Os velhos se levantam cedo, quando
os passarinhos cantam e eles não dormem mais: “... todas as vozes
do canto se baixarem”. Os órgãos ligados ao canto ficam mais fracos: a voz e o ouvido.
5. “... temeres o que é alto e te espantares no caminho” (ARA).
A pessoa idosa tem medo de subir ladeiras e, mesmo no plano, a distância parece grande para o velho. “... florescer a amendoeira”.
A amendoeira, no Oriente, floresce quando as outras árvores não têm flor, e suas flores são alvas. A amendoeira fica branca, quando as árvores são escuras com a folhagem verde. O velho com os cabelos brancos no meio dos jovens parece com a amendoeira. “...0
gafanhoto for um peso”. 0 idoso, com a espinha curva, a cabeça alva, os braços e as pernas mais finas, joelhos arqueados e apófise aumentada, era comparado ao gafanhoto.
A figura do gafanhoto ilustra o peso e o desgosto trazidos pela velhice. “Vai à sua eterna casa” refere-se ao outro mundo. “... perecer o apetite” entende-se como falta de satisfação ou paz na vida. “... os pranteadores rodeando a praça” são os lamentadores profissionais que choravam diante de um morto para ganhar dinheiro (Jr 9.17;
Mc 5.38). Também podem ser os parentes desejando que o velho morra para se apossarem da herança.
6. “Cadeia de prata... e... copo de ouro”. Essa figura lembra a extensão da vida. Havia naquele tempo um tipo de lâmpada pendurada por um cordão. Quando se partia o cordão, a lâmpada caía e se apagava. Partindo-se o fio da vida, o homem desaparece deste mundo, “...se despedace o cântaro junto à fonte e... a roda junto ao poço”. Todas essas ilustrações descrevem o fim dessa vida.
7. “E o pó volte à terra... e o espírito... a Deus, que o deu”. “Pó” é o corpo decomposto (Gn 3.19), “espírito”, parte imaterial, a imortalidade. Na morte, há uma separação entre o corpo e o espírito (Lc 16.22,23; At 7.59; Fp 1.23). O espírito no homem é o princípio
de vida e inteligência. Quando se separa do corpo, este se transforma em pó. Nesse verso volta a idéia do que vai “para cima” e “para baixo” mencionado em 3.21, ou o outro contraste entre “terra” e “céu” em 5.2.
O Novo Testamento ajuda a compreender o destino do homem mediante a obra de Jesus Cristo. Paulo diz em 2 Timóteo 1.10: “... nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho”.
8. “Vaidade de vaidades”. A referência à velhice e à mente faz o Pregador voltar ao sentimento do começo do livro (1.2). A tese começada antes chega agora ao seu fim. A decadência física e a volta do corpo ao pó da terra são argumentos fortes para advertir os homens que se lembrem da preparação para a eternidade.
9. “O Pregador, além de sábio, ainda ensinou ao povo o conhecimento” (ARA). Ensinou bem porque apresentou os deveres para com Deus. “Compôs três mil provérbios” (1 Rs 4.32). Essa palavra “provérbio”, do hebraico masal, tem muitos sentidos, podendo ser “máxima, enigma, parábola, comparação” etc.
Nesse verso, “o sábio ensinou ao povo” representa a parte oral, e “compôs provérbios” representa a parte que escreveu.
10. “Procurou... palavras agradáveis”. Tomou interesse em deleitar os ouvintes e transmitir a verdade estimulando o bom procedimento. Seu desejo é adaptar sua palavra à realidade da vida.
Finalmente, escreveu e falou usando de retidão. Reuniu em seu ensino a verdade, realidade das coisas, um modo agradável que deliciasse os ouvintes e leitores, e usou de toda a honestidade.
11. “As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos bem fixados as sentenças coligidas” (ARA). ‘Aguilhões” eram varas de ponta usadas para castigar os bois no trabalho. “Pregos”—peças de ferro ou de outro metal usadas para fixar as partes dos móveis e outros utensílios. “Sentenças coligidas” são lições preparadas por mestres para transmitirem o ensino aos alunos. Nesse verso há um paralelismo definindo as palavras dos sábios com três ilustrações.
São como “aguilhões...” como “pregos...” e como “sentenças coligidas”.
“Dadas pelo único Pastor”. Esse título só pode ser dado a Jesus Cristo. Tem havido muitos pastores bons e maus; porém, falando do único, só Jesus Cristo merece o título. Em 1 Pedro 5.2-4, ele é “o Sumo Pastor”. A sabedoria de Deus inspirou os autores das Escrituras Sagradas para formarem um tratado único. A lição transmitida por um servo de Deus não é somente de aplicação pessoal, mas serve para completar a unidade da revelação.
12. “Não há limite para fazer livros”. As produções humanas são incontáveis, especialmente na produção de livros. Os escritos mais antigos eram gravados em placas de barro, depois em papiro, uma espécie de papel formado de uma planta, em seguida usaram pergaminhos que eram de couro. Salomão, conhecendo a grande quantidade de escritos do seu tempo, podia dar testemunho de que não há limite para fazer livros. “O muito estudar enfado é da carne”. Quem estuda demais sem cuidar da saúde do corpo pode até morrer antes do tempo.
Se alguém estuda os escritos dos homens buscando a paz e a felicidade, chega à decepção (1.18). A palavra “carne” quer dizer fraqueza, limitação física, energia do corpo.
13. A conclusão do livro é: “Teme a Deus e guarda os seus mandamentos”. É o antídoto contra o seguir a vaidade e o andar sem Deus (7.16,18). 0 temor de Deus é o reconhecimento do seu poder e sua justiça (3.14). É o princípio da sabedoria (Sl 111.10; Pv
1.7; 9-10) e é também o fim, a conclusão de todo o ensino do
Pregador no livro de Eclesiastes. “Este é o dever de todo homem”. A finalidade desta vida é temer a Deus. Quem ainda não aprendeu essa lição está perdido neste mundo.
14. “Deus há de trazer a juízo toda obra”. O juízo de Deus revelará a vaidade dos ímpios e o valor da obediência à Palavra de Deus: “... até tudo o que está encoberto”. Os pecados não confessados são conhecidos por Deus e serão julgados no dia determinado para isso. O Deus anunciado pelo Pregador combina a graça (2.24; 9-7-9) com o julgamento (11.9; 12.14).

Temos visto em comentários de autores não evangélicos que o fato de o livro de Eclesiastes terminar com a palavra “mau” não soaria bem. Dizem eles que os que copiarem ou comentarem esse livro devem repetir o verso 13 depois do 14 (também Isaías, Malaquias e Lamentações terminam com uma palavra desagradável). Achamos, porém, que se o original, o texto hebraico que recebemos dos judeus, termina com essa palavra, devemos aceitá-la, porque ela completa uma sentença que expressa à revelação de Deus.

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