Desmistificando a palavra Rhema
Com o advento dos dons
espirituais aflorando no meio eclesiástico, os púlpitos evangélicos passaram a
respirar carisma e tudo basicamente que nasce nessas tribunas tem ou acaba
tendo um fundo carismático e isso é muito importante, porque a obra de Deus deve
ser realizada no poder do Espírito.
Desta feita, vão surgindo
experiências entre o povo de Deus, algumas espirituais, já outras emocionais,
sendo que as emocionais acabam ganhando mais força e notoriedade, por meio dos
pregadores que ministram de modo emocional e que gostam de frases de efeito,
chavões evangélicos, tipologias e figuras de linguagem, sendo que, para
legitimar suas prédicas, costumam afirmar que possuem uma “revelação”, baseados
na palavra Rhema.
Infelizmente esta é uma
realidade que acontece principalmente nas igrejas neopentecostais e ultra
pentecostais, já que infelizmente, muitos pregadores não buscam compreender o
estudo do texto de modo profundo, mas, para legitimar suas falas, botam tudo na
conta de Deus, afinal, quem irá ter a coragem de questionar estes pregadores,
que afirmam que possuem uma compreensão de um texto bíblico que ninguém
alcançou, nem mesmo os maiores especialistas em exegese bíblica.
Baseados no achismo e na
eisegese[1], os pregadores da confissão positiva procuram criar uma diferença
entre os termos gregos “logos” e “rhema”, pois alegam que “logos” é a palavra
escrita de Deus (como a temos na Bíblia), ao passo que, “rhema” é a palavra
revelada de Deus para cada indivíduo através do Espirito Santo para uma situação
específica, portanto, “Rhema” é a “palavra” que eles usam para “decretar” com o
objetivo de trazer a prosperidade ou cura, e legitimar qualquer “revelação” de
um ponto de vista pessoal sobre uma passagem bíblica.
Portanto, em nome da Rhema,
muitas heresias já foram legitimadas e interpretações absurdas foram sendo
absorvidas pela igreja, afinal, quem irá questionar um ministro da palavra que
afirma ter tido uma Rhema de Deus.
Entretanto, diametralmente
oposto aos ensinos da confissão positiva, as palavras gregas “rhema” e “logos”,
são usadas alternadamente no texto da septuaginta[2], que traduz tanto “logos”
como “rhema” a partir da palavra hebraica “dabar”, que significa “palavra
falada ou escrita; discurso, ou assunto do discurso, uma unidade mínima do discurso”,
sendo que basicamente a única diferença existente entre “logos” e “rhema” é
apenas de estilo literário e não de significado.
Sendo assim, basta um estudo
mais profundo de ambos os termos, para concluirmos que não existe nenhuma
diferença entre estes dois vocábulos no grego original, onde, muitas vezes,
eles são usados como sinônimos. Portanto, o termo “rhema” significa “palavra,
qualquer coisa falada, assunto do discurso”, enquanto “logos” apresenta uma
extensa variedade de significados como: “palavra, discurso, pregação, relato,
etc.”. Mas ambos os termos são concordantes.
Baseado na exegese[3] o Dr.
Russel Shedd de saudosa memória, afirmou que Pedro não fez distinção sobre
estes termos em sua primeira carta, capítulo 1.23-25: “Sendo de novo gerados,
não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra (logos) de Deus,
viva que permanece para sempre.
Porque toda a carne é como a
erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a
sua flor; mas a palavra (rhema) do Senhor permanece para sempre; e esta é a
palavra (rhema) que entre vós foi evangelizada”.[4]
Deste modo, como podemos
observar, na mente do apóstolo não havia distinção entre estas palavras. Sendo
assim, fica desfeita a pretensão dos proponentes da Confissão Positiva que
querem forçar uma interpretação exagerada destes termos.
Portanto, analisando o
quadro atual do movimento evangélico, observamos que a falta de ensino
teológico de qualidade, acaba criando campo para os exageros como o
triunfalismo e a confissão positiva que são muito comuns nas chamadas igrejas
neopentecostais.
Como cristãos e conhecedores
da Teologia Bíblica, devemos cuidar com aqueles que procuram legitimar sua fala
por meio de uma rhema “revelação” única e inquestionável sobre uma passagem
bíblica.
Entretanto, o estudante da
Bíblia, pode claramente observar que esta diferenciação entre “logos” e “rhema”
não tem base bíblica e representa o momento típico dos dias em que vivemos,
onde o triunfalismo, a confissão positiva, o reteté e o ultra pentecostalismo
ganham força, pois, muitos não querem ler, e muito menos analisar com cuidado e
amor a palavra de Deus.
[1] Eisegese: interpretação
de acordo com os pressupostos pessoais e emocionais.
[2] Septuaginta: tradução
dos setenta, quando o texto foi traduzido do hebraico, para o grego.
[3] Exegese: interpretação
de dentro do texto para fora, ou seja, conforme as regras corretas de
interpretação do texto bíblico.
[4] ROMEIRO, Paulo. Super
crentes. São Paulo: Mundo Cristão, 1993, p. 26.
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