Antes de qualquer
coisa é preciso dizer que a intenção deste artigo não é denegrir a imagem de
ninguém e nem difamar quem quer que seja, especialmente porque acreditamos
sempre que existe a possibilidade de arrependimento e mudança de atitude diante
de uma postura errada, principalmente porque, como cristãos, devemos sempre
esperar que aja o exercício do arrependimento, confissão e perdão (2Cr 7:14).
Um dos problemas
mais comuns e recorrentes na igreja evangélica brasileira diz respeito às
falhas de interpretação bíblica, quando alguns textos são distorcidos, ora
propositalmente ora por imperícia, imprudência ou negligência. De uma forma ou
de outra, a utilização inadequada de um texto ou de uma passagem bíblica tem
levado muitas pessoas ao engano e ao erro. É exatamente isso o que ocorre com
as práticas dos atos proféticos, tão comuns entre aqueles que seguem o
Movimento da Fé.
Mas, afinal de
contas, o que é um ato profético?
René Terranova, que
foi ungido apóstolo, depois “paipóstolo” e Patriarca, por Morris Cerrullo, tem
se destacado como um dos principais líderes defensores do Ato Profético no
Brasil. Ele diz: “A linguagem profética traz ao reino físico a existência do
mundo espiritual. Na maioria dos seus discursos, Jesus falava de uma forma
espiritual e o povo entendia na forma física, porque lhes faltava discernimento
espiritual” (TERRANOVA, 2009) [1].
Ainda, o grupo
Reavivamento Europa dá a seguinte definição para Ato Profético:
Como o nome já
sugere são ações realizadas por homens, profetas de Deus com determinado
sentido profético, com intuito de profetizar com ações e símbolos. São sinais
que apontam para o reino espiritual e que tem conseqüências no reino físico.
São ações expressas em atitudes e palavras [2].
Então, na visão dos
seguidores do Movimento da Fé, o Ato Profético seria uma ação envolta em
simbologia que supostamente traria ao mundo físico as realidades espirituais.
Para isso, os defensores desse pensamento utilizam passagens bíblicas,
especialmente do Antigo Testamento, em que Deus manda que os profetas utilizem
símbolos para transmitir a Sua mensagem, a exemplo dos umbrais das portas com
sangue na noite da décima praga do Egito (Ex 12), a pregação sem roupas de
Isaías (Is 20:3-4), as sete voltas em torno de Jericó (Josué), a canga de
Jeremias (Jr 27:2), o cinto de linho enterrado às margens do rio Eufrates (Jr
13:1-11), a botija de barro quebrada diante do povo (Jr 19:1-11) etc.
Em primeiro lugar,
as ações praticadas pelos profetas bíblicos não traziam nada à existência, como
afirmam os seguidores do Movimento da Fé. Antes, tinham um caráter didático de
ensino, instrução e orientação para o povo de Deus, a exemplo do profeta Oséias
que casou com uma prostituta. A ação de Oséias, ordenada por Deus, visava fazer
o povo entender que havia se prostituído diante do Senhor, mas que Ele, o
Senhor, continuava fiel ao Seu povo (Os 3) buscando tirá-lo da prostituição,
assim como Oséias fez com aquela mulher. Essa passagem bíblica nos mostra que a
situação de Gômer, a prostituta, era a mesma situação do povo de Israel. Esse
meio didático utilizado por Deus só demonstra que o povo estava em
prostituição.
Essas ações
proféticas encontradas na Bíblia não trazem à existência coisas espirituais.
Elas tinham um caráter didático para corrigir o povo, ensinar o povo ou trazer
juízo sobre um povo. Por isso diz-se que tais ações fazem parte dos atos
salvadores de Deus na história.
Por essa razão é
que o escritor aos Hebreus declara:
Havendo Deus,
outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,
nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas
as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e
a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu
poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da
Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou
mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4)
Em segundo lugar, a
interpretação bíblica é distorcida com os Atos Proféticos da atualidade. Isso
ocorre porque tais pessoas confundem o que é relato histórico e o que é ordem
direta.
Um relato histórico
é a descrição de algo que ocorreu no passado. Por exemplo, a Escritura relata
que Judas traiu Jesus. E mais, a Bíblia revela que o próprio Jesus disse: “O
que fazes, faze-o depressa” (Jo 13:27). Ainda, a Bíblia revela que Deus disse à
Moisés: “tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa”
(Ex 3:5). Ainda, a Bíblia revela que Jesus “cuspiu na terra e, tendo feito lodo
com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego” (Jo 9:6). Ainda, a Bíblia revela que
quando os sacerdotes entrassem na tenda da congregação, ou quando fossem
ministrar no altar, deveriam lavar as mãos e os pés com água para não morrerem,
e “isto lhes será por estatuto perpétuo, a ele e à sua posteridade, através de
suas gerações” (Ex 30:20,21). Ou seja, se um relato bíblico e histórico é
entendido como uma ordem para o povo de Deus e deve ser visto em forma de Ato
Profético, deveríamos, então, trair Jesus, pois Ele mesmo disse “O que fazes,
faze-o depressa”; deveríamos tirar as sandálias toda vez que entrássemos na
presença de Deus em oração, na igreja ou em uma reunião espiritual com irmãos
(Ex 3:5); deveríamos cuspir na terra e fazer “lodo” para passar nos olhos dos
cegos para os quais oramos (Jo 9:6); deveríamos lavar as mãos e os pés todas as
vezes que fôssemos oferecer algum tipo de serviço ao Senhor, para não sermos
mortos (Ex 30:20,21) etc.
O fato é que esses
atos, encontrados em sua grande maioria no Antigo Testamento, são direcionados
à um povo, evento ou situação específica, e a Bíblia está apenas relatando o
que houve. A Bíblia não está estabelecendo uma regra ou dizendo que deveríamos reproduzir
o ato. Ainda, o leitor da Bíblia deve observar o que o texto está dizendo, para
quem está dizendo e para quando está dizendo. Muitas vezes algumas pessoas
erram porque se apropriam de promessas que dizem respeito ao povo de Israel no
Antigo Testamento, como se isso dissesse respeito a nós hoje. Portanto, uma
coisa é a Bíblia relatar um fato, e outra coisa completamente diferente é a
Bíblia dar uma ordem direta e aplicável a nós hoje, como essa:
Mas, agora, vos
escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou
avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal,
nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não
julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois,
de entre vós o malfeitor. (1Co 5:11-13)
Em terceiro lugar,
erram por ignorar a suficiência das Escrituras.
A busca por Atos
Proféticos é gerada pela sensação de que a Bíblia não é suficiente para nos
falar, para nos corrigir e nem para nos orientar, e muito menos para suprir
nossas reais necessidades.
O apóstolo Paulo
alerta seu discípulo Timóteo sobre isso:
Conjuro-te, perante
Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e
pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige,
repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que
não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo
as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão
a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em
todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre
cabalmente o teu ministério. (2Tm 4:1-5) Exatamente por essa razão, Jesus
disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22:29).
O fato é que tais
pessoas sentem a necessidade de algo mais, de uma nova experiência. Isso ocorre
porque se afastaram dos princípios elementares da fé cristã e do Sola Scriptura.
Para estes a Sagrada Escritura já não é suficiente, pois buscam algo mais.
Contudo, esquecem que os atos dos profetas no Antigo Testamento, normalmente,
estavam relacionados com o afastamento do povo dos princípios estabelecidos
pelo Senhor, e como este povo estava negligenciando a Sagrada Escritura, Deus
usa de outro meio para lhes falar ao coração. Por isso, ao buscar um suposto e
hipotético Ato Profético estão apenas confessando publicamente o quão distante
se encontram da Bíblia Sagrada.
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Em quarto lugar,
erram na contextualização e na aplicação dos princípios bíblicos.
Um exemplo que pode
ser citado para ilustrar a questão é a armadura de Deus, em Efésios 6:10-20.
Ali, naquele Texto, o apóstolo Paulo utiliza o artifício da ilustração para
falar de verdades espirituais, e essas verdades são ilustradas através de uma
realidade física. Ou seja, Paulo usa a armadura romana para falar da verdade da
batalha espiritual, alicerçada no Evangelho da Paz (sandálias), Justiça
(couraça), Salvação (capacete), Fé (escudo) e a Palavra de Deus (espada). Isso
não quer dizer que o cristão tenha que usar uma armadura de verdade, ou que
tenha que ter miniaturas de armaduras em sua casa como uma mandala, patuá ou
amuleto, para estar protegido, pois isso seria superstição. Da mesma forma, os
atos encontrados no Antigo Testamento, por exemplo, não precisam ser repetidos
em nosso meio hoje, pois semelhantemente isso seria superstição, ou no mínimo
seria o mesmo que achar que um método pode substituir ou provocar a ação do Espírito
Santo, o que seria recair no erro do pragmatismo. Mas, é exatamente isso o que
tem acontecido, quando essas “práticas” e “ações” são executadas com a
finalidade de “bloquear”, “anular”, “derrubar” ou “vencer” fortalezas
espirituais. Isso é o mesmo que os espíritas fazem ao usar sabonetes e sal
grosso para tomar banhos de descarrego, ou usar alguns pós com supostos poderes
especiais que acreditam poder livrar as pessoas de mal olhado, ou quando usam o
pé de pinhão roxo para proteger suas casas e comércios, ou quando fazem um
despacho para, supostamente, fechar o corpo contra maus espíritos. Tudo isso
não passa de superstição, paganismo, feitiçaria e macumbaria.
Além do mais, é
preciso destacar que não encontramos nenhuma ordem bíblica para que façamos
tais coisas. É preciso relembrarmos que uma coisa é a Bíblia relatar algo que
ocorreu, e outra, completamente diferente, é a Bíblia ordenar que pratiquemos
algo.
Por isso, mais uma
vez é preciso repetir o que o escritor aos Hebreus declara:
Havendo Deus,
outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,
NESTES ÚLTIMOS DIAS, NOS FALOU PELO FILHO, a quem constituiu herdeiro de todas
as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e
a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu
poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da
Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou
mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4)
Portanto, no
passado Deus utilizou alguns meios didáticos para ensinar o povo e conduzi-los
à verdade da chegada e da presença do Messias, Jesus Cristo. Mas, a partir de
Jesus o meio que Deus tem utilizado é o próprio Jesus, mediante a ação do Espírito
Santo, por meio da Sagrada Escritura. Se no passado Deus usou, por exemplo, o
Urim e o Tumim (Ex 28:30), hoje Ele usa a Sua Sagrada Palavra, revelada aos
Seus filhos.
Porque a palavra de
Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e
penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta
para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma
encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos
daquele com quem temos de tratar. (Hb 4:12-13) Tu, porém, permanece naquilo que
aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que
desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio
para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente
inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para
instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente
instruído para toda a boa obra. (2 Tm 3:14-17)
A TRANSFERÊNCIA DE
GERAÇÃO COMO UM ATO PROFÉTICO
A ideia de
“Transferência de Geração”, praticada pelo grupo Diante do Trono, é
caracterizada simplesmente como uma distorção e afastamento das Escrituras,
baseada em manipulações de datas.
ASSISTA O VÍDEO DA
TRANSFERÊNCIA DE GERAÇÃO NO 15º CONGRESSO DE ADORAÇÃO E INTERCESSÃO DIANTE DO
TRONO
O argumento
utilizado para se defender a “Transferência de Geração” é de que existe uma
promessa em Joel 1:3, em que são citadas cinco gerações, sabendo que uma
geração dura em torno de 40 anos. Além disso, afirmam que um país só é
considerado como tal após a sua independência, e como a independência do Brasil
só ocorreu no dia 7 de setembro de 1822, a promessa de Deus é conduzida até
meados dos anos 1980. Os defensores deste pensamento afirmam especificamente o
ano de 1982. Então, essa geração de 1982 seria a responsável por promulgar um
santo jejum, convocar uma assembleia solene, congregar todos os anciãos e todos
os moradores da terra para a Casa do SENHOR e clamar à Ele (Joel 1:14).
O primeiro problema
com o argumento utilizado é para quem foi destinada a promessa de Joel 1:3.
Para quem o Texto está falando?
O contexto do livro
de Joel diz respeito a devastação da terra por uma dupla praga, de locustas [3]
e seca. Então, a promessa de Joel é de que se o povo de Israel voltar à
adoração do Deus verdadeiro, a sua terra será restaurada, tanto da praga dos
gafanhotos como da seca. Portanto, essa profecia diz respeito às pragas
derramadas sobre o próprio povo de Deus por sua apostasia, na época de Joel.
Dessa forma, se o fundamento para a transferência de Gerações, praticada pelo
Diante do Trono, é o texto de Joel, então esse grupo está confessando
publicamente a sua apostasia, assim como foi com o povo do profeta Joel.
O profeta Joel
alerta o povo de que essa praga não deveria ser esquecida, e, por isso,
precisava ser relembrada às gerações futuras para que estas gerações
entendessem que ela era a representação de um juízo ainda maior no porvir. Se
esta praga foi terrível, o Dia do Senhor será muito mais (Jl 2:1-11). Portanto,
o que deveria ser lembrado às gerações futuras era o derramamento do juízo de
Deus, que não tem nenhuma relação com a suposta Transferência de Gerações.
O segundo problema
com o argumento utilizado é que não há nenhuma evidência bíblica de que uma
geração dure 40 anos, como essas pessoas desejam.
Orlando Boyer
afirmou que a geração é a “duração média da vida de um homem” (1998, p.292)
[4], e Werner Kaschel e Rudi Zimmer afirmaram que uma geração é a “sucessão de
descendentes em linha reta: pais, filhos, netos, bisnetos, trinetos,
tataranetos (Sl 112.2; Mt 1.17)” (1999, p.79) [5], ainda afirmaram que geração
pode ser o “conjunto de pessoas vivas numa mesma época” (Idem).
Então, o texto
bíblico de Mateus 1:17 nos diz que de Abraão até Davi são 14 gerações, em que
temos um tempo médio de mil anos. Portanto, cada geração dura em média 71 anos.
Ainda, o Salmo 90:10 nos diz que “os dias da nossa vida chegam a setenta anos”,
que é a duração média de uma vida. Portanto, aqui, uma geração dura em média 70
anos.
Com isso, não há
nada que faça pensar que uma geração dure 40 anos, como pretendem os defensores
dos Atos Proféticos e da Transferência de Geração.
O terceiro problema
com o argumento utilizado é afirmar que um país só é considerado como tal após
a sua independência. Mas a promessa de Joel não tem nenhuma relação com a
formação de um país, especialmente porque o Israel étnico sempre existiu como
nação, preservando a sua cultura e religiosidade, até mesmo quando não tinha um
território, e mesmo durante os cativeiros. Ainda, este povo só passou a ser
reconhecido como um país em 1948, quando foi fundado o Estado Moderno de
Israel.
O quarto problema
com o argumento utilizado é tentar fazer uma correlação entre esta profecia e o
Brasil. Não existe nada no texto, absolutamente nada, que dê chance para isso.
Dessa forma, podemos ver claramente como esses grupos distorcem a Bíblia
deliberadamente e como fazem isso contando sempre com a falta de conhecimento,
falta de discernimento e falta de entendimento do povo. Esse é um claro exemplo
de como a Bíblia tem sido tratada com desprezo e descaso por esses grupos.
Para piorar a
situação, ainda mais, utilizam os textos de 1Samuel 16:13 e 2Coríntios 3:4-6
para fundamentar a prática de Transferência de Geração. Vejamos os textos:
Tomou Samuel o
chifre do azeite e o ungiu no meio de seus irmãos; e, daquele dia em diante, o
Espírito do SENHOR se apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e foi para
Ramá. (1Sm 16:13)
E é por intermédio
de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos
capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a
nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de
uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o
espírito vivifica. (2Co 3:4-6)
O texto de 1Sm
16:13 relata o encontro entre Davi e Samuel, quando Davi foi ungido pela
primeira vez. Esse texto fala da chamada de Davi ao trono de Israel, mas não
pode ser visto como algo que se repete nos dias de hoje, especialmente porque o
texto diz que nesse momento, com Davi, o Espírito do SENHOR se apossou dele.
Contudo, na Nova Aliança o Espírito Santo se apossa do convertido no momento da
conversão. Por isso que o apóstolo Paulo nos diz que “em um só Espírito, todos
nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer
livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Co 12:13). E diz
mais, pois “não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de
Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é
dele” (Rm 8:9). Portanto, não podemos afirmar que o fato de alguém ser ungido
com azeite nos dias de hoje é o princípio para a chegada do Espírito Santo e
nem para a Sua descida. Muito menos que é sinal da aprovação Divina.
O que vemos com
isso, mais uma vez, é a apropriação indevida de um texto que está em outro
contexto, dentro de outra Aliança e que é dirigido à outra pessoa. Um texto que
é descritivo e que é manipulado para parecer uma ordem direta ou orientação
Divina para sua repetição na atualidade.
O texto de 2 Coríntios
3:4-6 é outro que tem sido muito distorcido e mal interpretado por muitas
pessoas. Essa passagem diz respeito a Nova Aliança, em que todo membro é um
sacerdote, diferente da antiga Aliança. Se na antiga Aliança havia um grupo
exclusivo de sacerdotes, na Nova Aliança todo membro é um ministro e sacerdote,
como pode ser visto aqui. Portanto, todo aquele que nasceu de novo é um
ministro da Nova Aliança, e esta Aliança não é da letra, ou seja, não é igual
àquela que foi gravada com letras em pedras (3:7), porque a letra mata (3:6).
Mas que letra é essa? Como já foi dito, é a letra que foi gravada em pedras
(3:7), isto é, a Lei que foi dada à Moisés. Esta letra que mata, portanto, não
tem nenhuma relação com o estudo ou pesquisa, mas com a Lei do Antigo Testamento.
Nesse sentido,
Moisés fez algo que poderia ser visto como um ato profético, pois ele passou a
usar um véu sobre a face. Porém, o apóstolo diz que “não somos como Moisés, que
punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação
do que se desvanecia” (3:13), e que para alguns, “até ao dia de hoje, quando
fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo
revelado que, em Cristo, é removido” (3:14). Por isso, não precisamos de certos
artifícios, porque se essa letra em tábuas de pedra é vista como “ministério da
condenação”, devemos entender que “em muito maior proporção será glorioso o
ministério da justiça” (3:9), que é o que vivemos hoje na Nova Aliança. E este
véu, usado por Moisés, foi apenas um artifício utilizado por ele para que o
povo não percebesse que a glória de Deus estava desvanecendo. Portanto, o uso
desse tipo de prática, nos dias de hoje, é apenas uma tentativa de ludibriar o
povo, um artifício, para que este pense que a glória de Deus está presente ali,
naquele “rosto”.
Por isso, não
precisamos de Atos Proféticos e nem de unções descabidas.
Por isso, podemos
ver com clareza como esses grupos distorcem a Sagrada Escritura, a exemplo da
utilização de 2Coríntios 3:17: “Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o
Espírito do Senhor, ali há liberdade”.
Bem, a liberdade
quando é do Senhor nem dá lugar à carne (Gl 5:13), nem deturpa a verdade do
Evangelho (1Pe 2:16) e nem causa escândalo (2 Co 6:3). Já que esse não tem sido
o caso desses grupos só podemos concluir, biblicamente, que essa liberdade que
têm utilizado não provém de Deus e que mais uma vez o texto bíblico utilizado
não fundamenta as suas práticas.
Por último, só para
entender com mais clareza como a prática do Ato Profético é uma distorção e
como tem sido utilizada para fins antibíblicos, vejamos o que René Terranova
diz sobre a relação que existe entre Ato Profético, mapeamento de genealogia e
maldição hereditária:
A Bíblia relata que
os judeus davam muita importância à genealogia, ao conhecimento de suas
origens. Os judeus ortodoxos têm o costume de registrar a genealogia de suas
famílias. Nós poderíamos ter essa cultura, mas nossa história é muito mal
formada. Mal conhecemos a identidade de nossos pais, muito menos do nosso povo
e nem sabemos como retratar nossa árvore genealógica.Um dos nomes de Jesus é
Raiz de Davi, porque no contexto messiânico se Jesus não fosse a Raiz de Davi,
não seria o Messias (Mt. 1). Em certas ocasiões, poderemos tentar uma conquista
de território, mas nosso argumento genealógico poderá ser empecilho por não
termos respaldo local ou não termos um nome de família honrado. Deus pode mudar
esse quadro restaurando a nossa genealogia com um ato profético de quebra de
maldições dos antepassados. Procure pelo menos descobrir quem foram seus
familiares até a quarta geração que lhe antecedeu. Quando resgatamos a nossa história
genealógica conhecendo nossas origens, fica mais fácil quebrar maldições
hereditárias [6].
Contudo, Colin
Brown Lothar demonstra que esse tipo de pensamento não passa de uma heresia, e
que já era praticada por grupos anticristãos a exemplo do gnosticismo,
ebionismo e pelos defensores dos misticismos judaicos:
Genealogia ocorre
no NT somente em 1Tm 1:4 e Tt 3:9, e alude especificamente à prática de
pesquisar a árvore genealógica a fim de estabelecer a descendência. Segundo
qualquer exegese direta, aqueles que assim faziam somente podem ter sido
judeus, que, a partir de genealogias do AT e de outras, estavam propagando
todos os tipos de “mitos judaicos”, bem como, provavelmente, especulações
gnósticas pré-cristãs. É também possível que os ebionitas empregassem
argumentos semelhantes para atacarem a doutrina do nascimento milagroso de
Jesus que circulava na igreja cristã [7]. Portanto, a única coisa que podemos
perceber com tudo isso é que estamos simplesmente presenciando o surgimento de
heresia em cima de heresia e que não há nada novo debaixo do sol (Ec 1:9).
Por Robson T. FernandesQue Deus nos ajude.
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