A
vida da igreja cheia do Espírito Santo (2.42-47)
A igreja de
Jerusalém conjugava doutrina e vida, credo e conduta, palavra e poder,
qualidade e quantidade. Hoje vemos igrejas que revelam grandes desequilíbrios.
As igrejas que zelam pela doutrina não celebram com entusiasmo. As igrejas
ativas na ação social desprezam a oração. Aquelas que mais crescem em número
mercadejam a verdade. Ao contrário
disso, a igreja de Jerusalém era unificada (2.44), exaltada (2.47a) e multiplicada
(2.47b).
Quais são as
marcas de uma igreja cheia do Espírito Santo.
Em primeiro
lugar, uma igreja cheia do Espírito é comprometida com a fidelidade à
Palavra de Deus (2.42).
A igreja de
Jerusalém nasceu sob a égide da verdade.
A igreja começou com o derramamento do Espírito,
a pregação cristocêntrica e a permanência dos novos crentes na doutrina dos apóstolos.
A doutrina dos apóstolos é o inspirado ensino pregado oralmente naquele tempo,
e agora preservado no Novo Testamento. Stott diz que o Espírito Santo abriu uma
escola em Jerusalém; seus professores eram os apóstolos que Jesus escolhera; e
havia 3 mil alunos no jardim da infância. A igreja apostólica era uma igreja
que aprendia. Com isso, deduzimos que o antiintelectualismo e a plenitude do
Espírito são incompatíveis, pois o Espírito Santo é o Espírito da verdade. O
Espírito de Deus leva o povo de Deus a submeter-se à Palavra de Deus. Justo
González destaca que o perseverar no ensino dos apóstolos não quer só dizer que
o povo não se desviou das doutrinas apostólicas ou permaneceu ortodoxo. Quer dizer
também que eles perseveraram na prática de aprender com os apóstolos — que eram
alunos, ou discípulos, ávidos por conhecimento sob o comando dos mestres.
Ao longo da história houve muitos desvios da
verdade: às heresias da Idade Média; a ortodoxia sem piedade; o Pietismo — piedade
sem ortodoxia; os quacres — o importante é a luz interior; o movimento liberal —
a razão acima da revelação; e o movimento neopentecostal — a experiência acima
da revelação.
Deus tem um compromisso com a Palavra. Ele tem zelo pela Palavra. Uma
igreja fiel não pode mercadejar a Palavra
Em segundo
lugar, uma igreja cheia do Espírito é perseverante na oração (2.42).
Uma igreja cheia do Espírito ora com fervor e
constância. A igreja de Jerusalém não apenas possuía uma boa teologia da oração,
mas efetivamente orava.
Ela dependia mais de Deus do que dos próprios
recursos: Atos 1.14 — Todos unânimes perseveravam em oração; Atos 3.1 - Os líderes
da igreja vão orar às 3 horas da tarde; Atos 4.31 - A igreja sob perseguição
ora, o lugar treme e o Espírito desce; Atos 6.4 - A liderança entende que a sua
maior prioridade é oração e a Palavra; Atos 9.11 – O primeiro sinal que Deus
deu a Ananias sobre a conversão de Paulo é que ele estava orando; Atos 12.5 -
Pedro está preso, mas há oração incessante da igreja em seu favor e ele é
miraculosamente libertado; Atos 13.1-3 — A igreja de Antioquia ora e Deus abre
as portas das missões mundiais; Atos 16.25 — Paulo e Silas oram na prisão e Deus
abre as portas da Europa para o evangelho; Atos 20.36 - Paulo ora com os presbíteros
da igreja de Éfeso na praia; Atos 28.8,9 - Paulo ora pelos enfermos da ilha de
Malta e os cura.
Em terceiro
lugar, uma igreja cheia do Espírito tem uma profunda comunhão (2.42,44-46).
Em uma igreja cheia do
Espírito os irmãos se amam profundamente. Na
igreja de Jerusalém os irmãos gostavam de estar juntos (2.44). Eles partilhavam
seus bens (2.45). Eles apreciavam estar no templo (2.46) e também nos lares
(2.46b). Havia um só coração e uma só alma. Onde desce o óleo do Espírito, aí há
união entre os irmãos; aí ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre (SI
133). Os crentes eram sensíveis para ajudar os necessitados (2.44,45). Eles
converteram o coração e o bolso. Tinham desapego dos bens e apego às pessoas. Encarnaram
a graça da contribuição. Concordo com Stott quando ele diz que a comunhão cristã
e o cuidado cristão é compartilhamento cristão. Justo González enfatiza que o partir
do pão não significa apenas que eles comiam junto. Refere-se à celebração
da comunhão, que desde o início e por muitos séculos, é o centro da adoração cristã.
Em quarto
lugar, uma igreja cheia do Espírito adora a Deus com entusiasmo (2.47).
Uma igreja cheia do Espírito canta com fervor e
louva a Deus com entusiasmo. O culto era um deleite. Eles amavam a casa de
Deus. Uma igreja viva tem alegria de estar na casa de Deus para adorar. A comunhão
no templo é uma das marcas da igreja ao longo dos séculos. O louvor da igreja
era constante. Uma igreja alegre canta. Os muçulmanos têm mais de um bilhão de adeptos
no mundo, mas eles não cantam. Uma igreja viva tem um louvor fervoroso, contagiante,
restaurador, sincero, verdadeiro. O louvor que agrada a Deus tem origem no próprio
Deus, tem como propósito exaltá-lo e tem como resultado quebrantamento dos corações.
O culto verdadeiro produz reverência e alegria, pois, se a alegria do Senhor for
obra do Espírito, o temor do Senhor também será autêntico.
Em quinto
lugar, uma igreja cheia do Espírito teme a Deus e experimenta os seus
milagres (2.43).
Uma igreja cheia do Espírito é formada por um
povo cheio de reverência. Ela tem compreensão da santidade de Deus. Ela se
curva diante da majestade de Deus. Hoje as pessoas estão acostumadas com o
sagrado. Há uma banalização do sagrado. Há saturação, comercialização e
paganização das coisas de Deus. Quem conhece a santidade de Deus não brinca com
as coisas de dele. A igreja de Jerusalém era reverente e também receptiva ao
agir soberano de Deus. Tinha a agenda aberta para as soberanas intervenções do
Senhor. Acreditava nos milagres de Deus. A manifestação extraordinária de Deus
estava presente na vida da igreja: Atos 3 — 0 paralítico é curado; Atos 4.31 —
O lugar onde a igreja ora, treme; Atos 5.12,15 — Muitos sinais e prodígios são
efetuados; Atos 8.6 — Filipe realiza sinais em Samaria; Atos 9 — A conversão de
Saulo é seguida da sua cura; Atos 12 — Pedro é libertado pelo anjo do Senhor;
Atos 16.26 - Ocorre um terremoto em Filipos; Atos 1 9 .11 - Pelas mãos de Paulo,
Deus fazia milagres; Atos 28.8,9 - Deus cura os enfermos de Malta pela oração
de Paulo. Hoje há dois extremos na igreja: aqueles que negam os milagres e
aqueles que os inventam.
Em sexto lugar, uma igreja
cheia do Espírito tem a simpatia dos homens e a bênção do crescimento numérico
por parte de Deus (2.47).
Essa
igreja é simpática e amável. Ela é sal e luz. E boca de Deus e monumento da graça.
Essa igreja tem qualidade e também quantidade. Cresce para no alto e também
para os lados. Mostra vida e também números. A igreja de Jerusalém produziu
impacto na sociedade por causa de seu estilo de vida. Era uma igreja comprometida
com a verdade, mas não legalista; era uma igreja santa, mas não farisaica; era
uma igreja piedosa, mas não com santorronice. Os crentes eram alegres,
festivos, íntegros. Eles contagiavam. O estilo de vida da igreja impactava a
sociedade: melhores maridos, esposas, filhos, pais, estudantes, profissionais.
O resultado da qualidade é a quantidade. Deus mesmo acrescentava a essa igreja,
dia a dia, os que iam sendo salvos. Temos hoje dois extremos: necrolatria e numero
fobia. Precisamos entender que qualidade gera quantidade.
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