O evangelicalismo
brasileiro apresenta características apreciáveis e preocupantes. Entre estas
últimas está o gosto por novidades. Líderes e fiéis sentem que, para manter o
interesse pelas coisas de Deus, é preciso que de tempos em tempos surja um
ensino novo, uma nova ênfase ou experiência. Geralmente tais inovações têm sua
origem nos Estados Unidos. Assim como outros países, o Brasil é um importador e
consumidor de bens materiais e culturais norte-americanos. Isso ocorre também
na área religiosa. Um movimento de origem americana que tem tido enorme
receptividade no meio evangélico brasileiro desde os anos 80 é a chamada
teologia da prosperidade. Também é conhecida como “confissão positiva”,
“palavra da fé”, “movimento da fé” e “evangelho da saúde e da prosperidade”. A
história das origens desse ensino revela aspectos questionáveis que devem
servir de alerta para os que estão fascinados com ele.
Ao contrário do que
muitos imaginam, as idéias básicas da confissão positiva não surgiram no
pentecostalismo, e sim em algumas seitas sincréticas da Nova Inglaterra, no
início do século 20. Todavia, por causa de algumas afinidades com a cosmovisão
pentecostal, como a crença em profecias, revelações e visões, foi em círculos
pentecostais e carismáticos que a confissão positiva teve maior acolhida, tanto
nos Estados Unidos como no Brasil. A história de seus dois grandes paladinos
irá elucidar as raízes dessa teologia popular e mostrar por que ela é danosa
para a integridade do evangelho.
Na década de 80 o
Brasil foi tomado por um movimento que atraiu e ainda atrai milhares de pessoas
para as igrejas evangélicas, mas pouca gente conhece a fundo a história da
teologia da prosperidade.
Essek M. Kenyon |
O pioneiro desse
movimento foi o pastor Essek M. Kenyon(1867-1948), mas o maior divulgador foi
Kenneth Hagin (1917-2003). A teologia da prosperidade busca a interpretação de
uma série de textos bíblicos para fazer com que os fiéis entendam que Deus tem
saúde e bênçãos materiais para entregar ao seu povo.
O teólogo Zwnglio
Rodrigues recorda um trecho do livro “O Nome de Jesus” escrito por Hagin: “Por
que, pois o diabo – a depressão, a opressão, os demônios, as enfermidades, e
tudo mais que provém do diabo – está dominando tantos cristãos e até mesmo
igrejas? É porque não sabem o que pertence a eles. (1999, p. 37)”.
Kenneth Hagin |
Rodrigues
explica que quando o autor diz que o povo não sabe o que lhes pertencem quer
dizer que desconhecem seus direitos. Os pastores da teologia da prosperidade
tentam ensinar esse conhecimento aos seguidores.
“É
a respeito do desfrute destas coisas [saúde e prosperidade] que os cristãos
mantêm-se ignorantes, dizem os pregadores da confissão positiva”, lembra o
teólogo.
As
igrejas que pregam a Teologia da Prosperidade
A
prova de que a Teologia da Prosperidade tem atraído cada vez mais fiéis é o
crescimento das igrejas neopentecostais que a disseminam, entre elas pode citar
a Internacional da Graça de Deus, Universal do Reino de Deus, Renascer em
Cristo e Igreja Mundial do Poder de Deus.
Algumas
igrejas pentecostais também estão entrando nessa linha, um exemplo disso são as
recentes pregações de um dos maiores ícones deste segmento o pastor Silas
Malafaia. Outro ícone do pentecostalismo que aparece nos sites de busca como
simpatizante dessa doutrina é o pastor Marco Feliciano que nega ser um defensor
da TP.
“Não
sou adepto dessa desgraça, não! Sou assembleiano roxo!”, disse Feliciano que
explica a diferença da sua pregação para a teologia da prosperidade. “Teologia
da Prosperidade, não pode ser comparada com a Prosperidade que vem da Teologia.
Existe na palavra centenas de afirmações sobre a benção que enriquece, que o
Senhor é dono do ouro e da prata, que a prosperidade vem ao fiel”, diz.
Apesar
de crer que a prosperidade é dom de Deus, Feliciano diz que é contra a
massificação desse ensino. “Sou contra a massificação desse ensino, usando-o
como método abusivo de ‘colheita’, tipo, lavagem cerebral para enganar os
incautos.”
Ele
também acredita na benção que vem através do dízimo e da oferta, mas diz que
essas sementes precisam ser lançadas em um ministério sério. “Eu creio na
benção que vem ao dizimista, ao ofertante e ao sacrificante. Quem planta colhe,
quem não planta não colhe, quem planta muito colhe muito, quem planta pouco
colhe pouco… Todavia só se colhe quando se planta em um solo fértil! Ministério
sério.”
Contraposições
Enquanto
muitas pessoas acreditam e correm para as igrejas em busca de saúde e bênçãos
materiais, estudiosos e pastores caminham em contramão tentando alertar os
perigos que esses ensinamentos podem trazer. “O sucesso numérico das
denominações que são legítimas e fiéis representantes da TP no Brasil se dá
exatamente por causa das promessas de saúde e prosperidade que são oferecidas e
dadas como certas. Apelos desta natureza só podem redundar em uma aglomeração
numerosa de fiéis, pois eles cativam facilmente aqueles que pensam ser o
sucesso financeiro e a saúde o summum bonum (o bem maior) da vida”, diz Zwnglio
Rodrigues.
O
teólogo cita o versículo de Tiago 1:2 (Meus irmãos, tende por motivo de toda a
alegria o passardes por várias provações.) e ensina o que esse texto quer
dizer. “O vocábulo “várias”, no grego, é poikilos e pode ser traduzido por
“multicolorido”. Em outras palavras, o cristão pode sofrer provações de todas
as matizes. Ora, nesse universo policromático há de tudo, inclusive doença e
falta de dinheiro.”
O problema desse
movimento, segundo Rodrigues é que o “deleite não está no Senhor, mas no(s)
serviço(s) que Ele, supostamente, se habilita a prestar”.
Kenneth Copeland |
Reflexos no Brasil
Benny Hinn |
Os ensinos de Hagin
influenciaram um grande número de pregadores norte-americanos, a começar de
Kenneth Copeland, seu herdeiro presuntivo. Outros seguidores seus foram Benny
Hinn, Frederick Price, John Avanzini, Robert Tilton, Marilyn Hickey, Charles
Capps, Hobart Freeman, Jerry Savelle e Paul (David) Yonggi Cho, entre outros.
Em 1979, Doyle Harrison, genro de Hagin, fundou a Convenção Internacional de
Igrejas e Ministros da Fé, uma virtual denominação. Nos anos 80, os ensinos da
confissão positiva e do evangelho da prosperidade chegaram ao Brasil. Um dos
primeiros a difundi-lo foi Rex Humbard. Marilyn Hickey, John Avanzini e Benny
Hinn participaram de conferências promovidas pela Associação de Homens de
Negócios do Evangelho Pleno (Adhonep). Outros visitantes foram Robert Tilton e
Dave Robertson.
Valnice Milhomens |
Entre as primeiras
manifestações do movimento estavam a Igreja do Verbo da Vida e o Seminário
Verbo da Vida (Guarulhos), a Comunidade Rema (Morro Grande) e a Igreja Verbo
Vivo (Belo Horizonte). Alguns líderes que abraçaram essa teologia foram Jorge
Tadeu, das Igrejas Maná (Portugal); Cássio Colombo (“tio Cássio”), do
Ministério Cristo Salva, em São Paulo; o “apóstolo” Miguel Ângelo da Silva
Ferreira, da Igreja Evangélica Cristo Vive, no Rio de Janeiro, e R. R. Soares,
responsável pela publicação da maior parte dos livros de Hagin no Brasil.
Talvez a figura mais destacada dos primeiros tempos tenha sido a pastora
Valnice Milhomens, líder do Ministério Palavra da Fé, que conheceu os ensinos
da confissão positiva na África do Sul. As igrejas brasileiras sofreram o
impacto de uma avalanche de livros, fitas e apostilas sobre confissão positiva.
Ricardo Gondim observou em 1993: “Com livros extremamente simples, [Hagin]
conseguiu influenciar os rumos da igreja no Brasil mais do que qualquer outro
líder religioso nos últimos tempos”.
Jorge Tadeu |
Além de apresentar ensinos questionáveis
sobre a fé, a oração e as prioridades da vida cristã, e de relativizar a
importância das Escrituras por meio de novas revelações, a teologia da
prosperidade, através dos escritos de seus expoentes, apresenta outras ênfases
preocupantes no seu entendimento de Deus, de Jesus Cristo, do ser humano e da
salvação. A partir dos anos 80, várias denominações pentecostais
norte-americanas se posicionaram oficialmente contra os excessos desse
movimento (Assembléias de Deus, Evangelho Quadrangular e Igreja de Deus).
Autores como Charles Farah, Gordon Fee, D. R. McConnell e Hank Hanegraaff,
todos simpatizantes do movimento carismático, escreveram obras contestando a
confissão positiva e suas implicações. Eles destacaram como, embora essa
teologia pareça uma maneira empolgante de encarar a Bíblia, ela se distancia em
pontos cruciais da fé cristã histórica.
tendências preocupantes:
1) Simplificação teológica: todo mal vem
do diabo.
2) A busca de experiências
extraordinárias.
3) Confissão Positiva.
4) Visão triunfalista: a obsessão pela
“Vitória”.
5) A batalha espiritual sem base bíblica.
6) O sincretismo com os cultos
afro-brasileiros.
7) Hermenêutica alegórica.
8) Enfoque judaizante: Israel
mistificado.
9) Volta ao Antigo Testamento.
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