Moisés e o Monte Sinai
POR VERDADE VIVA ·
No curso da história humana, Moisés foi um
entre os maiores homens que já viveram. Poucos homens influenciaram a
humanidade como ele. Ele emerge acima, não apenas de seus contemporâneos, como
também de sucessivas gerações. Na Bíblia, seu nome ocorre 835 vezes no Velho
Testamento e 80 vezes no Novo Testamento, mais freqüentemente que qualquer
outro personagem do Velho Testamento. Ele escreveu 137 capítulos da Bíblia; é o
autor do Pentateuco (os primeiros cinco livros do Velho Testamento) e do Salmo
90, onde ele é chamado “O homem de Deus”. Ele é chamado também de Profeta (Dt
18:13); Sacerdote (Sl 99:6); e Rei em Jesurum (Dt 33:5).
O LIBERTADOR
Se Abraão é o pai de seu povo e nação,
demonstrando o princípio da fé, Moisés é o libertador do seu povo da escravidão,
simbolizando o princípio da liderança.
Seria interessante perguntar: Onde repousa o
segredo da sua grandeza e poder? Primeiramente, e antes de tudo, repousa na
soberania de Deus em escolher e levantar um homem no ponto crítico da história
do mundo; e, em segundo lugar, naquele desejo de Moisés de submeter-se à
vontade de Deus e obedecer aos seus mandamentos. Ele foi o instrumento nas mãos
de Deus para realizar os seus propósitos de graça para com seu povo.
Os 120 anos da vida de Moisés são divididos em
três períodos iguais de quarenta anos. Os primeiros quarenta anos foram
passados no Egito. Nascido de pais tementes a Deus, vivendo como escravos sob
um governo tirano e opressor. Através de uma série de eventos divinamente
notáveis, o bebê Moisés foi adotado pela filha do rei Faraó. Sua mãe judia foi
contratada para cuidar dele. Como um protegido da corte real, ele recebeu a
melhor educação que a mais avançada nação do mundo daquela época tinha para
oferecer. Estevão, em At 7:22, diz-nos que: “…Moisés foi instruído em toda a
ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras”. Deus estava
moldando-o e preparando-o para seus propósitos servindo-se soberanamente das
astutas artimanhas do Diabo.
O MONTE SINAI
A Península do Sinai é triangular, tem a forma
de um coração, situado entre dois braços do Mar Vermelho. A oeste está o Golfo
de Suez e ao leste está o Golfo de Ácaba (ou o Golfo de Eilat). A praia a oeste
é de 180 milhas de distância, a praia ao leste é cerca de 130 milhas de
distância. A linha fronteiriça ao norte é de 150 milhas de distância. A parte
nordeste é relativamente deserto plano, enquanto que ao sul há uma grande
cadeia de rudes montanhas. Dois nomes bíblicos são associados com este monte:
Horebe, sendo todo o grupo de montanhas, e Sinai, uma montanha em especial na
cadeia. Seu nome moderno é Jabel Musa (a montanha de Moisés). Essa montanha é
uma massa de rocha isolada, que ergue-se abruptamente da planície com magnífica
e espantosa grandeza. O lado noroeste é uma espaçosa planície de duas milhas de
extensão por meia milha de largura, capaz de acomodar dois milhões de pessoas.
Moisés certamente estava familiarizado com esta área. Ele havia passado
quarenta anos no deserto ao redor, cuidando das ovelhas, e foi em Horebe que
Deus falou-lhe primeiramente e revelou-se a Si mesmo (Ex 3:1-6). Agora Moisés
teria que conduzir e zelar por outro rebanho, o Povo de Israel.
A jornada de Israel do Egito ao Sinai terminou
no terceiro mês. Eles acamparam diante do monte (Ex19:1-2), e permaneceram ali
um ano inteiro (Nm 1:1). Ali Deus revelar-se-ia ao povo através de Moisés.
Aparentemente Moisés subiu ao monte quatro vezes; duas por uma indefinida
duração de tempo, e duas por um período de quarenta dias. A cada vez houve uma
revelação distinta tal como seguem:
1. DEUS PROPÕE UM CONCERTO CONDICIONAL COM
ISRAEL – Ex 19:3-19
Ele lembra-lhes a sua redenção da servidão no
Egito, e como Ele tirou-os como com asas de águia e trouxe-os a Si mesmo.
“Agora pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz, e guardardes o meu
concerto, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos:
porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo
santo”. Quando Moisés transmitiu os termos do concerto ao povo, eles
replicaram: “Tudo o que o Senhor tem falado faremos”. Eles não perceberam sua
própria fraqueza e conseqüente falha registradas na história. Todos os
concertos estabelecidos previamente por Deus foram com indivíduos, com Noé,
Abraão, Isaque e Jacó, mas aqui, pela primeira vez foi com uma nação.
2. A SEGUNDA ASCENSÃO AO MONTE – Ex 19:20
A segunda ascensão de Moisés ao monte foi
acompanhada de uma tremenda demonstração da majestade e glória de Deus. Ao povo
foi dito para lavar-se e purificar-se, e não se aproximar ou tocar o monte. “E
todo o monte de Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo: e o
seu fumo subiu como fumo dum forno, e todo o monte tremia grandemente. E o
sonido da buzina ia crescendo em grande maneira: Moisés falava, e Deus lhe
respondia em voz alta”. Foi aqui que Moisés recebeu a Lei e comunicou-a ao
povo. Ela compunha-se de três partes:
Os dez mandamentos (20) – A lei moral;
Os estatutos (21 a 23) – A lei civil;
As ordenanças (24 a 31) – Leis concernentes à
adoração, às festas e ao sábado. Estas leis foram primeiramente comunicadas
oralmente.
3. OS PRIMEIROS QUARENTA DIAS – Ex 24 a 31
Isto foi introduzido pela ratificação do
concerto através de um sacrifício de sangue. Moisés, Aarão, Nadabe, Abiú, e
setenta dos anciãos de Israel tomaram parte na cerimônia. Um altar foi
construído com doze pilares representando as doze tribos de Israel. Os termos e
detalhes do concerto foram escritos por Moisés em um livro. Metade do sangue do
sacrifício da oferta pacífica e oferta queimada foi aspergido sobre o altar, e
após ter sido lido ao povo os termos do concerto, eles replicaram, “Tudo que o
Senhor tem falado faremos”. Então o resto do sangue foi aspergido sobre o livro
e sobre o povo (Hb 9:19).
Após uma visão preliminar de Deus – visto por
Moisés, Aarão, Nadabe, Abiú, e os setenta anciãos de Israel onde eles comeram e
beberam uma comida sagrada – somente Moisés subiu no monte e ficou lá quarenta
dias e quarenta noites (Ex 24:18).
Foi durante este tempo que ele viu um modelo e
recebeu instruções concernentes à construção do Tabernáculo, o sacerdócio e as
ofertas, e as duas tábuas de pedra com a lei escrita pelo dedo de Deus (Ex
25:31). Esta tão importante seção da Palavra de Deus contém importantes lições
para nós na presente época. A lei era inexorável em suas demandas por
obediência, mas Deus em sua graça providenciou o Tabernáculo, o sacerdócio, e o
sistema de sacrifícios como um meio de acesso a si mesmo. Isto são figuras
autorizadas. O Tabernáculo, por exemplo, é uma figura das coisas nos céus (Hb
8:5; 9:9, 23-24).
Os detalhes não são deixados à nossa
imaginação. Isto é o céu transferido à terra como uma figura visível (Conforme
referências ao céu em Apocalipse 4, etc.). O Tabernáculo é uma figura:
da Igreja como a casa de Deus (Hb. 3:12-6);
da Pessoa e Obra de Cristo (Hb. 8:2; 9:11);
do caminho de acesso a Deus (Hb. 10:20);
do sacerdócio e ofertas. Tipos do ministério de
Cristo como Sumo Sacerdote e Seu sacrifício expiatório na cruz; a epístola aos
Hebreus e o livro de Apocalipse são divinos comentários destas grandes figuras.
A APOSTASIA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS – Ex 32
Quando Moisés desceu do monte com as tábuas de
pedra em sua mão, deparou-se com uma visão deplorável, e o mais triste era que
o seu próprio irmão Aarão estava conduzindo todas aquelas cenas. O povo que tão
recentemente havia declarado sua aliança em um concerto com Jeová e havia feito
um voto de obediência a Ele, está agora adorando um bezerro de ouro fabricado
por Aarão e dizendo, “Estes são nossos deuses que nos tiraram do Egito”. Eles
devem ter pensado que Moisés havia morrido entre o fumo e fogo do Sinai, e não
podiam esperar por seis semanas pelo seu retorno. Quão inconstante é a natureza
humana!
Após adorarem o bezerro de ouro, o povo
sentou-se a comer e a beber e levantou-se para dançar. Moisés deve ter ficado
com o coração partido. Quando Deus ameaçou agir em juízo e varrê-los da face da
terra, Moisés intercedeu por eles e procedeu de maneira drástica. Ele arremeteu
as tábuas de pedra ao pé do monte. Então ele queimou o bezerro de ouro até
torná-lo em pó, misturou-o com água, e forçou o povo a beber.
Então ele armou a tenda fora do acampamento e
chamou a todos que desejassem seguir ao Senhor para juntar-se a ele. Todos os
filhos de Levi assim fizeram. Ele ordenou então a cada homem que tirasse a
espada e fosse através do acampamento e ferisse cada um ao seu próximo. Naquele
dia cerca de três mil homens foram executados.
Podemos compreender a reação de Moisés nestes
eventos: Valia a pena continuar? Seu recurso era clamar ao Senhor. Ele fez dois
pedidos: “Rogo-te que agora me faças saber o teu caminho, e conhecer-te-ei”. A
divina resposta foi: “Irá a minha presença contigo para te fazer descansar”.
Moisés acrescentou: “Se a tua presença não for conosco, não nos faças subir
daqui” (Ex 33:13-15).
Seu segundo pedido foi: “Rogo-te que me mostres
a tua glória”. A resposta foi uma das mais maravilhosas manifestações de Deus a
um homem mortal. Ele lhe disse: “Não poderás ver a minha face, porquanto homem
nenhum verá a minha face, e viverá. Disse mais o Senhor: Eis aqui um lugar
junto a mim; ali te porás sobre a penha. E acontecerá que, quando a minha
glória passar, te porei numa fenda da penha, e te cobrirei com a minha mão, até
que eu haja passado. E, havendo eu tirado a minha mão, me verás pelas costas:
mas a minha face não se verá”. Fortalecido por estas duas grandes experiências,
Moisés foi preparado para executar o seu trabalho.
OS SEGUNDOS QUARENTA DIAS NO MONTE – Ex 34:1-4
Com as duas tábuas de pedra que o Senhor
mandou-o lavrar novamente, Moisés subiu ao monte Sinai. Novamente ele
encontrou-se com o Senhor o qual proclamou seu nome e atributos, e Moisés
curvou sua cabeça à terra e adorou. O Senhor renovou o seu concerto com Israel
e recomissionou Moisés, e repetiu as promessas relativas à ocupação da Terra
Prometida. As festas e os sábados eram para ser cuidadosamente observados bem
como o código civil e cerimonial da Lei. A Moisés foi ordenado escrever estas
palavras, “Porque conforme ao teor destas palavras tenho feito concerto contigo
e com Israel. E esteve ali com o Senhor quarenta dias e quarenta noites: não
comeu pão, nem bebeu água, e escreveu nas tábuas as palavras do concerto, os
dez mandamentos” (Versos 27-28).
Um dos resultados deste período de comunhão com
Deus no topo do monte foi que a pele do seu rosto brilhou, embora ele mesmo não
soube disto. Aarão e o povo temeram aproximar-se dele, então ele punha um véu
em sua face quando falava com eles. Quando ele falava com Deus entretanto ele
tirava o véu. Na sarça ardente, Deus lidou com os seus pés, sua mão e seu
peito, ensinando-lhe importantes lições (Ex 3 a 4). Mas aqui é a transformação
do seu semblante como o resultado de haver estado na presença de Deus. Paulo
faz referência a isto em II Coríntios 3:6-18. Ele destaca a diferença entre o
ministério da lei que resulta em condenação, e o superior ministério do novo
concerto: “Mas todos nós com cara descoberta, refletindo como um espelho a
glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como
pelo Espírito do Senhor” (Verso 18).
Os capítulos finais de Êxodo (35 a 40) relatam
a histórica construção do Tabernáculo sob a supervisão de Moisés e a competente
mão-de-obra de Bezaleel e Aoliabe, dois homens chamados e capacitados por Deus.
Quando a obra estava acabada, Deus mostrou sua aprovação e Sua presença através
da nuvem de glória (Shekinah) que encheu o Tabernáculo.
A RELAÇÃO DOS CRENTES DE HOJE COM A LEI DE
MOISÉS
Isto é exposto em detalhes nas epístolas de
Paulo aos Romanos e aos Gálatas, e na epístola aos Hebreus. João disse: “A Lei
foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1:17).
Isto significa que houve uma mudança de dispensação da lei à graça. Paulo diz, “a
lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Rm 7:12). Porque então a
mudança? Para resumir:
A lei é um padrão – O homem pecador nunca
poderá atingí-lo.
A lei é um Juiz – Todos são culpados diante
dela (Rm 1 a 3).
A lei é um executor – Seu juízo é a morte (Rm
6:23).
A lei é um guia (pedagogo) – Conduz a Cristo
(Gl 3:24).
Cristo, o Santo sem pecado, cumpriu a lei,
levou a maldição, sofreu a morte como nosso substituto na cruz. Aqueles que
crêem, confiam, encomendam-se a si mesmos a Ele em simples fé, em verdadeiro
arrependimento de seus pecados, recebem a vida eterna e são livres da maldição
da lei.
Por outro lado, devemos lembrar que nove das
cláusula do código moral contidas nos dez mandamentos são repetidas no Novo
Testamento como incumbência aos crentes de hoje. A única exceção é o sábado. Os
mandamentos morais de Deus não mudam. Porém eles são obedecidos a partir de uma
base e motivos diferentes, que é o amor a Cristo. Tiago chama isto de “A lei
perfeita da liberdade” (Tg 1:25). Paulo descreve isto como “Não estando sem lei
para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo” (I Cor 9:21; Rm 8:4).
MOISÉS NO DESERTO
A terceira parte da vida de Moisés foram os
quarenta anos passados no deserto a caminho da terra de Canaã. É o tema
principal do livro de Números. Tem sido chamado “O registro de uma geração
perdida”. No começo do livro, há um censo que conta o povo no deserto do Sinai,
e trinta e oito anos mais tarde há outro nas campinas de Moabe, exatamente
antes de entrar na terra. Dos dois milhões e meio que haviam deixado o Egito,
os únicos sobreviventes eram Josué e Calebe, homens de coragem e fé. Os demais
deixaram os seus ossos no deserto.
O deserto é o lugar de prova e também da graça,
proteção e provisão de Deus. Israel falhou tristemente. O ponto crucial teve
lugar em Cades-Barnéia. Doze homens, um de cada tribo, foram enviados como
espias a Canaã para examinar a terra e avaliar a possibilidade de ocupá-la. Dez
voltaram com um relatório pessimista. Os inimigos eram muito grandes e
poderosos; seria impossível dominá-los. Deus havia prometido estar com eles;
seu pecado era não crer naquela promessa. Apenas Josué e Calebe disseram, “Nós
podemos”. O resultado: os incrédulos foram sentenciados a trinta e oito anos de
caminhada errante pelo deserto até que fossem varridos da terra. Os dois
otimistas crentes em Deus e Sua promessa sobreviveram para triunfantemente
entrarem na terra prometida.
O registro dos anos de peregrinação errante
pelo deserto é marcado por uma série de episódios, a maioria caracterizados
pela murmuração, reclamação e revolta contra a liderança de Moisés. Foram
contaminados pela mistura de gente que saiu do Egito com o filhos de Israel.
Suas queixas tinha a ver com a comida. Eles queixavam-se do maná celestial que
Deus havia miraculosamente provido. Eles desejavam a variada dieta de que tanto
gostaram no Egito. Em resposta Deus deu-lhes carne em forma de bando de
codornizes, mas isto veio acompanhado de juízo sobre os queixosos murmuradores.
Então houve um problema de família entre os líderes.
Miriã e Aarão, irmãos de Moisés, falaram contra ele porque ele havia casado com
uma mulher cusita. Aqui nos é dito entre parêntesis que Moisés era mui manso,
mais do que qualquer homem sobre a terra. Ele não tentou defender-se a si
mesmo, porém, Deus interveio. Miriã foi ferida com lepra. É a primeira vez que
esta doença é mencionada na Bíblia. Após sete dias de exclusão do acampamento,
através da intercessão de Moisés em oração ela foi restaurada da lepra e
restaurada ao seu lugar no acampamento (Nm 12).
Talvez um dos mais sérios eventos na história
da jornada no deserto foi a revolta de Coré, Datã, e Abirão contra a liderança
de Moisés e Aarão (Nm 16 e 17). Isto foi motivado por inveja.
Foi uma tentativa de revolução que poderia ter
dividido o povo e conduzido-o ao desastre. Foi uma invasão do serviço levítico
no ofício sacerdotal. Novamente Deus interveio. Os rebeldes estavam à porta de
suas tendas com incensários de bronze contendo fogo e incenso, quando
subitamente o chão abriu-se engolindo-os e lançando-os vivos no Seol. O
desastre foi acompanhado por um fogo do Senhor que consumiu os homens que
haviam oferecido o incenso. Como subseqüência da ocorrência de murmuração
contra Moisés e Aarão uma praga irrompeu no acampamento matando catorze mil e
setecentas pessoas.
Números registra a chegada de toda a
congregação a Cades em memória notável (Nm 11 a 14). Trinta e sete anos
problemáticos havia passado desde que estiveram ali pela primeira vez. Muito
havia acontecido naquele tempo. O capítulo abre com a morte e enterro de Miriã,
e finaliza com Aarão sendo despido de suas vestes sacerdotais para que seu
filho Eleazar seja vestido em seu lugar. Aarão é então enterrado no monte de
Hor. Entre tudo isto, está a triste história da rocha ferida pela segunda vez
por Moisés, por causa de que, ele tinha de morrer sem entrar na terra
prometida, sendo enterrado na terra de Moabe.
Novamente o povo estava murmurando e
queixando-se pela falta de água e falando sobre os figos, vinhas e romãs do
Egito. Novamente Moisés e Aarão prostraram-se sobre seus rostos diante de Deus.
“E o Senhor falou a Moisés dizendo: Toma a
vara, e ajunta a congregação tu e Aarão, teu irmão, e falai à rocha perante os
seus olhos, e dará a sua água… Então Moisés tomou a vara de diante do Senhor,
como lhe tinha ordenado. E Moisés e Aarão reuniram a congregação diante da
rocha, e disse-lhes: Ouvi agora, rebeldes, porventura tiraremos água desta
rocha para vós? então Moisés levantou a sua mão, e feriu a rocha duas vezes com
a sua vara, e saíram muitas águas; e bebeu a congregação e os seus animais. E o
Senhor disse a Moisés e a Aarão: Porquanto não me crestes a mim, para me
santificar diante dos filhos de Israel, por isso não metereis esta congregação
na terra que lhes tenho dado. Estas são as águas de Meribá, porque os filhos de
Israel contenderam com o Senhor: e se santificou neles”.
É indizivelmente triste pensar que a este
grande homem, um dos maiores que já viveram, não foi permitido cumprir sua
ambição de conduzir o povo de Deus para dentro da terra prometida. Podemos
pensar que seu pecado era trivial em comparação com as constantes provocações
do povo, que tão gravemente e freqüentemente pecou contra Deus. Mas o pecado de
Moisés era grande porque ele era grande. Aquilo que é considerado pequeno
pecado, em grandes homens tem tremendas conseqüências. Quanto mais alguém é
elevado por Deus, maior será a queda em caso de falha.
Primeiramente ele falou inadvertidamente com os
seus lábios (Sl 106:33). Perdendo seu autocontrole, ele chamou o povo de Deus,
“Vós rebeldes, porventura tiraremos água desta rocha para vós?”. Então ele
desobedeceu a Deus e feriu a rocha duas vezes ao invés de falar a ela. Ele
estragou um tipo, uma figura. A rocha ferida uma vez (Ex 17:6) da qual fluíram
águas vivas, não deveria ser ferida novamente. A rocha erguida – prefigurando o
ressurrecto Cristo a quem nós podemos falar e de quem fluem nossas bênçãos –
foi ferida duas vezes, e assim a figura de Deus foi estragada. Nisto consistiu
o pecado de Moisés pelo qual ele tinha de morrer. A morte e o sepultamento de
Moisés são descritos em Dt 34:1-6:
“Então subiu Moisés das campinas de Moabe ao
monte Nebo, ao cume de Pisga, que está defronte de Jericó; e o Senhor mostrou-lhe
toda a terra desde Gileade até Dã; e todo Naftali, e a terra de Efraim, e
Manassés; e toda a terra de Judá, até ao mar último; e o sul, e a campina do
vale de Jericó, a cidade das palmeiras até Zoar. E disse-lhe o Senhor: Esta é a
terra que jurei a Abraão, Isaque e Jacó, dizendo: À tua semente a darei:
mostro-ta para a veres com os teus olhos; porém para lá não passarás. Assim
morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, conforme ao dito do
Senhor. E o sepultou num vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor; e
ninguém tem sabido até hoje a sua sepultura”.
Assim vemos como este grande servo de Deus, que
durante sua vida subiu às alturas da montanha para estar na presença de Deus,
agora no final da vida desce ao vale, em uma triste experiência. Estas coisas
estão escritas para aviso nosso.
Fonte: Verdes Pastos, Nº 15, 1998
POR VERDADE VIVA ·
No curso da história humana, Moisés foi um
entre os maiores homens que já viveram. Poucos homens influenciaram a
humanidade como ele. Ele emerge acima, não apenas de seus contemporâneos, como
também de sucessivas gerações. Na Bíblia, seu nome ocorre 835 vezes no Velho
Testamento e 80 vezes no Novo Testamento, mais freqüentemente que qualquer
outro personagem do Velho Testamento. Ele escreveu 137 capítulos da Bíblia; é o
autor do Pentateuco (os primeiros cinco livros do Velho Testamento) e do Salmo
90, onde ele é chamado “O homem de Deus”. Ele é chamado também de Profeta (Dt
18:13); Sacerdote (Sl 99:6); e Rei em Jesurum (Dt 33:5).
O LIBERTADOR
Se Abraão é o pai de seu povo e nação,
demonstrando o princípio da fé, Moisés é o libertador do seu povo da escravidão,
simbolizando o princípio da liderança.
Seria interessante perguntar: Onde repousa o
segredo da sua grandeza e poder? Primeiramente, e antes de tudo, repousa na
soberania de Deus em escolher e levantar um homem no ponto crítico da história
do mundo; e, em segundo lugar, naquele desejo de Moisés de submeter-se à
vontade de Deus e obedecer aos seus mandamentos. Ele foi o instrumento nas mãos
de Deus para realizar os seus propósitos de graça para com seu povo.
Os 120 anos da vida de Moisés são divididos em
três períodos iguais de quarenta anos. Os primeiros quarenta anos foram
passados no Egito. Nascido de pais tementes a Deus, vivendo como escravos sob
um governo tirano e opressor. Através de uma série de eventos divinamente
notáveis, o bebê Moisés foi adotado pela filha do rei Faraó. Sua mãe judia foi
contratada para cuidar dele. Como um protegido da corte real, ele recebeu a
melhor educação que a mais avançada nação do mundo daquela época tinha para
oferecer. Estevão, em At 7:22, diz-nos que: “…Moisés foi instruído em toda a
ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras”. Deus estava
moldando-o e preparando-o para seus propósitos servindo-se soberanamente das
astutas artimanhas do Diabo.
O MONTE SINAI
A Península do Sinai é triangular, tem a forma
de um coração, situado entre dois braços do Mar Vermelho. A oeste está o Golfo
de Suez e ao leste está o Golfo de Ácaba (ou o Golfo de Eilat). A praia a oeste
é de 180 milhas de distância, a praia ao leste é cerca de 130 milhas de
distância. A linha fronteiriça ao norte é de 150 milhas de distância. A parte
nordeste é relativamente deserto plano, enquanto que ao sul há uma grande
cadeia de rudes montanhas. Dois nomes bíblicos são associados com este monte:
Horebe, sendo todo o grupo de montanhas, e Sinai, uma montanha em especial na
cadeia. Seu nome moderno é Jabel Musa (a montanha de Moisés). Essa montanha é
uma massa de rocha isolada, que ergue-se abruptamente da planície com magnífica
e espantosa grandeza. O lado noroeste é uma espaçosa planície de duas milhas de
extensão por meia milha de largura, capaz de acomodar dois milhões de pessoas.
Moisés certamente estava familiarizado com esta área. Ele havia passado
quarenta anos no deserto ao redor, cuidando das ovelhas, e foi em Horebe que
Deus falou-lhe primeiramente e revelou-se a Si mesmo (Ex 3:1-6). Agora Moisés
teria que conduzir e zelar por outro rebanho, o Povo de Israel.
A jornada de Israel do Egito ao Sinai terminou
no terceiro mês. Eles acamparam diante do monte (Ex19:1-2), e permaneceram ali
um ano inteiro (Nm 1:1). Ali Deus revelar-se-ia ao povo através de Moisés.
Aparentemente Moisés subiu ao monte quatro vezes; duas por uma indefinida
duração de tempo, e duas por um período de quarenta dias. A cada vez houve uma
revelação distinta tal como seguem:
1. DEUS PROPÕE UM CONCERTO CONDICIONAL COM
ISRAEL – Ex 19:3-19
Ele lembra-lhes a sua redenção da servidão no
Egito, e como Ele tirou-os como com asas de águia e trouxe-os a Si mesmo.
“Agora pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz, e guardardes o meu
concerto, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos:
porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo
santo”. Quando Moisés transmitiu os termos do concerto ao povo, eles
replicaram: “Tudo o que o Senhor tem falado faremos”. Eles não perceberam sua
própria fraqueza e conseqüente falha registradas na história. Todos os
concertos estabelecidos previamente por Deus foram com indivíduos, com Noé,
Abraão, Isaque e Jacó, mas aqui, pela primeira vez foi com uma nação.
2. A SEGUNDA ASCENSÃO AO MONTE – Ex 19:20
A segunda ascensão de Moisés ao monte foi
acompanhada de uma tremenda demonstração da majestade e glória de Deus. Ao povo
foi dito para lavar-se e purificar-se, e não se aproximar ou tocar o monte. “E
todo o monte de Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo: e o
seu fumo subiu como fumo dum forno, e todo o monte tremia grandemente. E o
sonido da buzina ia crescendo em grande maneira: Moisés falava, e Deus lhe
respondia em voz alta”. Foi aqui que Moisés recebeu a Lei e comunicou-a ao
povo. Ela compunha-se de três partes:
Os dez mandamentos (20) – A lei moral;
Os estatutos (21 a 23) – A lei civil;
As ordenanças (24 a 31) – Leis concernentes à
adoração, às festas e ao sábado. Estas leis foram primeiramente comunicadas
oralmente.
3. OS PRIMEIROS QUARENTA DIAS – Ex 24 a 31
Isto foi introduzido pela ratificação do
concerto através de um sacrifício de sangue. Moisés, Aarão, Nadabe, Abiú, e
setenta dos anciãos de Israel tomaram parte na cerimônia. Um altar foi
construído com doze pilares representando as doze tribos de Israel. Os termos e
detalhes do concerto foram escritos por Moisés em um livro. Metade do sangue do
sacrifício da oferta pacífica e oferta queimada foi aspergido sobre o altar, e
após ter sido lido ao povo os termos do concerto, eles replicaram, “Tudo que o
Senhor tem falado faremos”. Então o resto do sangue foi aspergido sobre o livro
e sobre o povo (Hb 9:19).
Após uma visão preliminar de Deus – visto por
Moisés, Aarão, Nadabe, Abiú, e os setenta anciãos de Israel onde eles comeram e
beberam uma comida sagrada – somente Moisés subiu no monte e ficou lá quarenta
dias e quarenta noites (Ex 24:18).
Foi durante este tempo que ele viu um modelo e
recebeu instruções concernentes à construção do Tabernáculo, o sacerdócio e as
ofertas, e as duas tábuas de pedra com a lei escrita pelo dedo de Deus (Ex
25:31). Esta tão importante seção da Palavra de Deus contém importantes lições
para nós na presente época. A lei era inexorável em suas demandas por
obediência, mas Deus em sua graça providenciou o Tabernáculo, o sacerdócio, e o
sistema de sacrifícios como um meio de acesso a si mesmo. Isto são figuras
autorizadas. O Tabernáculo, por exemplo, é uma figura das coisas nos céus (Hb
8:5; 9:9, 23-24).
Os detalhes não são deixados à nossa
imaginação. Isto é o céu transferido à terra como uma figura visível (Conforme
referências ao céu em Apocalipse 4, etc.). O Tabernáculo é uma figura:
da Igreja como a casa de Deus (Hb. 3:12-6);
da Pessoa e Obra de Cristo (Hb. 8:2; 9:11);
do caminho de acesso a Deus (Hb. 10:20);
do sacerdócio e ofertas. Tipos do ministério de
Cristo como Sumo Sacerdote e Seu sacrifício expiatório na cruz; a epístola aos
Hebreus e o livro de Apocalipse são divinos comentários destas grandes figuras.
A APOSTASIA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS – Ex 32
Quando Moisés desceu do monte com as tábuas de
pedra em sua mão, deparou-se com uma visão deplorável, e o mais triste era que
o seu próprio irmão Aarão estava conduzindo todas aquelas cenas. O povo que tão
recentemente havia declarado sua aliança em um concerto com Jeová e havia feito
um voto de obediência a Ele, está agora adorando um bezerro de ouro fabricado
por Aarão e dizendo, “Estes são nossos deuses que nos tiraram do Egito”. Eles
devem ter pensado que Moisés havia morrido entre o fumo e fogo do Sinai, e não
podiam esperar por seis semanas pelo seu retorno. Quão inconstante é a natureza
humana!
Após adorarem o bezerro de ouro, o povo
sentou-se a comer e a beber e levantou-se para dançar. Moisés deve ter ficado
com o coração partido. Quando Deus ameaçou agir em juízo e varrê-los da face da
terra, Moisés intercedeu por eles e procedeu de maneira drástica. Ele arremeteu
as tábuas de pedra ao pé do monte. Então ele queimou o bezerro de ouro até
torná-lo em pó, misturou-o com água, e forçou o povo a beber.
Então ele armou a tenda fora do acampamento e
chamou a todos que desejassem seguir ao Senhor para juntar-se a ele. Todos os
filhos de Levi assim fizeram. Ele ordenou então a cada homem que tirasse a
espada e fosse através do acampamento e ferisse cada um ao seu próximo. Naquele
dia cerca de três mil homens foram executados.
Podemos compreender a reação de Moisés nestes
eventos: Valia a pena continuar? Seu recurso era clamar ao Senhor. Ele fez dois
pedidos: “Rogo-te que agora me faças saber o teu caminho, e conhecer-te-ei”. A
divina resposta foi: “Irá a minha presença contigo para te fazer descansar”.
Moisés acrescentou: “Se a tua presença não for conosco, não nos faças subir
daqui” (Ex 33:13-15).
Seu segundo pedido foi: “Rogo-te que me mostres
a tua glória”. A resposta foi uma das mais maravilhosas manifestações de Deus a
um homem mortal. Ele lhe disse: “Não poderás ver a minha face, porquanto homem
nenhum verá a minha face, e viverá. Disse mais o Senhor: Eis aqui um lugar
junto a mim; ali te porás sobre a penha. E acontecerá que, quando a minha
glória passar, te porei numa fenda da penha, e te cobrirei com a minha mão, até
que eu haja passado. E, havendo eu tirado a minha mão, me verás pelas costas:
mas a minha face não se verá”. Fortalecido por estas duas grandes experiências,
Moisés foi preparado para executar o seu trabalho.
OS SEGUNDOS QUARENTA DIAS NO MONTE – Ex 34:1-4
Com as duas tábuas de pedra que o Senhor
mandou-o lavrar novamente, Moisés subiu ao monte Sinai. Novamente ele
encontrou-se com o Senhor o qual proclamou seu nome e atributos, e Moisés
curvou sua cabeça à terra e adorou. O Senhor renovou o seu concerto com Israel
e recomissionou Moisés, e repetiu as promessas relativas à ocupação da Terra
Prometida. As festas e os sábados eram para ser cuidadosamente observados bem
como o código civil e cerimonial da Lei. A Moisés foi ordenado escrever estas
palavras, “Porque conforme ao teor destas palavras tenho feito concerto contigo
e com Israel. E esteve ali com o Senhor quarenta dias e quarenta noites: não
comeu pão, nem bebeu água, e escreveu nas tábuas as palavras do concerto, os
dez mandamentos” (Versos 27-28).
Um dos resultados deste período de comunhão com
Deus no topo do monte foi que a pele do seu rosto brilhou, embora ele mesmo não
soube disto. Aarão e o povo temeram aproximar-se dele, então ele punha um véu
em sua face quando falava com eles. Quando ele falava com Deus entretanto ele
tirava o véu. Na sarça ardente, Deus lidou com os seus pés, sua mão e seu
peito, ensinando-lhe importantes lições (Ex 3 a 4). Mas aqui é a transformação
do seu semblante como o resultado de haver estado na presença de Deus. Paulo
faz referência a isto em II Coríntios 3:6-18. Ele destaca a diferença entre o
ministério da lei que resulta em condenação, e o superior ministério do novo
concerto: “Mas todos nós com cara descoberta, refletindo como um espelho a
glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como
pelo Espírito do Senhor” (Verso 18).
Os capítulos finais de Êxodo (35 a 40) relatam
a histórica construção do Tabernáculo sob a supervisão de Moisés e a competente
mão-de-obra de Bezaleel e Aoliabe, dois homens chamados e capacitados por Deus.
Quando a obra estava acabada, Deus mostrou sua aprovação e Sua presença através
da nuvem de glória (Shekinah) que encheu o Tabernáculo.
A RELAÇÃO DOS CRENTES DE HOJE COM A LEI DE
MOISÉS
Isto é exposto em detalhes nas epístolas de
Paulo aos Romanos e aos Gálatas, e na epístola aos Hebreus. João disse: “A Lei
foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1:17).
Isto significa que houve uma mudança de dispensação da lei à graça. Paulo diz, “a
lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Rm 7:12). Porque então a
mudança? Para resumir:
A lei é um padrão – O homem pecador nunca
poderá atingí-lo.
A lei é um Juiz – Todos são culpados diante
dela (Rm 1 a 3).
A lei é um executor – Seu juízo é a morte (Rm
6:23).
A lei é um guia (pedagogo) – Conduz a Cristo
(Gl 3:24).
Cristo, o Santo sem pecado, cumpriu a lei,
levou a maldição, sofreu a morte como nosso substituto na cruz. Aqueles que
crêem, confiam, encomendam-se a si mesmos a Ele em simples fé, em verdadeiro
arrependimento de seus pecados, recebem a vida eterna e são livres da maldição
da lei.
Por outro lado, devemos lembrar que nove das
cláusula do código moral contidas nos dez mandamentos são repetidas no Novo
Testamento como incumbência aos crentes de hoje. A única exceção é o sábado. Os
mandamentos morais de Deus não mudam. Porém eles são obedecidos a partir de uma
base e motivos diferentes, que é o amor a Cristo. Tiago chama isto de “A lei
perfeita da liberdade” (Tg 1:25). Paulo descreve isto como “Não estando sem lei
para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo” (I Cor 9:21; Rm 8:4).
MOISÉS NO DESERTO
A terceira parte da vida de Moisés foram os
quarenta anos passados no deserto a caminho da terra de Canaã. É o tema
principal do livro de Números. Tem sido chamado “O registro de uma geração
perdida”. No começo do livro, há um censo que conta o povo no deserto do Sinai,
e trinta e oito anos mais tarde há outro nas campinas de Moabe, exatamente
antes de entrar na terra. Dos dois milhões e meio que haviam deixado o Egito,
os únicos sobreviventes eram Josué e Calebe, homens de coragem e fé. Os demais
deixaram os seus ossos no deserto.
O deserto é o lugar de prova e também da graça,
proteção e provisão de Deus. Israel falhou tristemente. O ponto crucial teve
lugar em Cades-Barnéia. Doze homens, um de cada tribo, foram enviados como
espias a Canaã para examinar a terra e avaliar a possibilidade de ocupá-la. Dez
voltaram com um relatório pessimista. Os inimigos eram muito grandes e
poderosos; seria impossível dominá-los. Deus havia prometido estar com eles;
seu pecado era não crer naquela promessa. Apenas Josué e Calebe disseram, “Nós
podemos”. O resultado: os incrédulos foram sentenciados a trinta e oito anos de
caminhada errante pelo deserto até que fossem varridos da terra. Os dois
otimistas crentes em Deus e Sua promessa sobreviveram para triunfantemente
entrarem na terra prometida.
O registro dos anos de peregrinação errante
pelo deserto é marcado por uma série de episódios, a maioria caracterizados
pela murmuração, reclamação e revolta contra a liderança de Moisés. Foram
contaminados pela mistura de gente que saiu do Egito com o filhos de Israel.
Suas queixas tinha a ver com a comida. Eles queixavam-se do maná celestial que
Deus havia miraculosamente provido. Eles desejavam a variada dieta de que tanto
gostaram no Egito. Em resposta Deus deu-lhes carne em forma de bando de
codornizes, mas isto veio acompanhado de juízo sobre os queixosos murmuradores.
Então houve um problema de família entre os líderes.
Miriã e Aarão, irmãos de Moisés, falaram contra ele porque ele havia casado com
uma mulher cusita. Aqui nos é dito entre parêntesis que Moisés era mui manso,
mais do que qualquer homem sobre a terra. Ele não tentou defender-se a si
mesmo, porém, Deus interveio. Miriã foi ferida com lepra. É a primeira vez que
esta doença é mencionada na Bíblia. Após sete dias de exclusão do acampamento,
através da intercessão de Moisés em oração ela foi restaurada da lepra e
restaurada ao seu lugar no acampamento (Nm 12).
Talvez um dos mais sérios eventos na história
da jornada no deserto foi a revolta de Coré, Datã, e Abirão contra a liderança
de Moisés e Aarão (Nm 16 e 17). Isto foi motivado por inveja.
Foi uma tentativa de revolução que poderia ter
dividido o povo e conduzido-o ao desastre. Foi uma invasão do serviço levítico
no ofício sacerdotal. Novamente Deus interveio. Os rebeldes estavam à porta de
suas tendas com incensários de bronze contendo fogo e incenso, quando
subitamente o chão abriu-se engolindo-os e lançando-os vivos no Seol. O
desastre foi acompanhado por um fogo do Senhor que consumiu os homens que
haviam oferecido o incenso. Como subseqüência da ocorrência de murmuração
contra Moisés e Aarão uma praga irrompeu no acampamento matando catorze mil e
setecentas pessoas.
Números registra a chegada de toda a
congregação a Cades em memória notável (Nm 11 a 14). Trinta e sete anos
problemáticos havia passado desde que estiveram ali pela primeira vez. Muito
havia acontecido naquele tempo. O capítulo abre com a morte e enterro de Miriã,
e finaliza com Aarão sendo despido de suas vestes sacerdotais para que seu
filho Eleazar seja vestido em seu lugar. Aarão é então enterrado no monte de
Hor. Entre tudo isto, está a triste história da rocha ferida pela segunda vez
por Moisés, por causa de que, ele tinha de morrer sem entrar na terra
prometida, sendo enterrado na terra de Moabe.
Novamente o povo estava murmurando e
queixando-se pela falta de água e falando sobre os figos, vinhas e romãs do
Egito. Novamente Moisés e Aarão prostraram-se sobre seus rostos diante de Deus.
“E o Senhor falou a Moisés dizendo: Toma a
vara, e ajunta a congregação tu e Aarão, teu irmão, e falai à rocha perante os
seus olhos, e dará a sua água… Então Moisés tomou a vara de diante do Senhor,
como lhe tinha ordenado. E Moisés e Aarão reuniram a congregação diante da
rocha, e disse-lhes: Ouvi agora, rebeldes, porventura tiraremos água desta
rocha para vós? então Moisés levantou a sua mão, e feriu a rocha duas vezes com
a sua vara, e saíram muitas águas; e bebeu a congregação e os seus animais. E o
Senhor disse a Moisés e a Aarão: Porquanto não me crestes a mim, para me
santificar diante dos filhos de Israel, por isso não metereis esta congregação
na terra que lhes tenho dado. Estas são as águas de Meribá, porque os filhos de
Israel contenderam com o Senhor: e se santificou neles”.
É indizivelmente triste pensar que a este
grande homem, um dos maiores que já viveram, não foi permitido cumprir sua
ambição de conduzir o povo de Deus para dentro da terra prometida. Podemos
pensar que seu pecado era trivial em comparação com as constantes provocações
do povo, que tão gravemente e freqüentemente pecou contra Deus. Mas o pecado de
Moisés era grande porque ele era grande. Aquilo que é considerado pequeno
pecado, em grandes homens tem tremendas conseqüências. Quanto mais alguém é
elevado por Deus, maior será a queda em caso de falha.
Primeiramente ele falou inadvertidamente com os
seus lábios (Sl 106:33). Perdendo seu autocontrole, ele chamou o povo de Deus,
“Vós rebeldes, porventura tiraremos água desta rocha para vós?”. Então ele
desobedeceu a Deus e feriu a rocha duas vezes ao invés de falar a ela. Ele
estragou um tipo, uma figura. A rocha ferida uma vez (Ex 17:6) da qual fluíram
águas vivas, não deveria ser ferida novamente. A rocha erguida – prefigurando o
ressurrecto Cristo a quem nós podemos falar e de quem fluem nossas bênçãos –
foi ferida duas vezes, e assim a figura de Deus foi estragada. Nisto consistiu
o pecado de Moisés pelo qual ele tinha de morrer. A morte e o sepultamento de
Moisés são descritos em Dt 34:1-6:
“Então subiu Moisés das campinas de Moabe ao
monte Nebo, ao cume de Pisga, que está defronte de Jericó; e o Senhor mostrou-lhe
toda a terra desde Gileade até Dã; e todo Naftali, e a terra de Efraim, e
Manassés; e toda a terra de Judá, até ao mar último; e o sul, e a campina do
vale de Jericó, a cidade das palmeiras até Zoar. E disse-lhe o Senhor: Esta é a
terra que jurei a Abraão, Isaque e Jacó, dizendo: À tua semente a darei:
mostro-ta para a veres com os teus olhos; porém para lá não passarás. Assim
morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, conforme ao dito do
Senhor. E o sepultou num vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor; e
ninguém tem sabido até hoje a sua sepultura”.
Assim vemos como este grande servo de Deus, que
durante sua vida subiu às alturas da montanha para estar na presença de Deus,
agora no final da vida desce ao vale, em uma triste experiência. Estas coisas
estão escritas para aviso nosso.
Fonte: Verdes Pastos, Nº 15, 1998