quinta-feira, 17 de junho de 2021


 

Da Prisão Ao Palácio: Os Detalhes Desconhecidos

Por Julia Blum

A próxima seção da saga de José começa no final de dois anos completos, quando o Faraó sonhou. No entanto, há uma ligeira diferença quando lido em Hebraico: (מִקֵּץ שְׁנָתַיִם יָמִים; mikétz shnatáim yamím) —no final de «dois anos de dias»—. A palavra yamím, «días», não ocorre em nenhuma tradução. As traduções falam apenas de «dois anos», enquanto o texto original fala de «dois anos de dias». Por quê?

A próxima seção da saga de José começa no final de dois anos completos, quando o Faraó sonhou. No entanto, há uma ligeira diferença quando lido em Hebraico: (מִקֵּץ שְׁנָתַיִם יָמִים; mikétz shnatáim yamím) —no final de «dois anos de dias»—. A palavra yamím, «días», não ocorre em nenhuma tradução. As traduções falam apenas de «dois anos», enquanto o texto original fala de «dois anos de dias». Por quê?

 O texto Hebraico aqui transmite uma verdade muito profunda: para José, esses dois anos de prisão consistiram em muitos dias únicos, dias cheios de angústia, dor, novas esperanças e novas decepções. Todos os dias ele tinha que escolher confiar em Deus, não importando o quão exausto ou desapontado estivesse. A palavra «dias» aqui nos assegura que Deus viu todos os dias da prisão de José: Ele conhecia a dor e a angústia de cada um desses dias.

 Não somos todos assim? Embora nossa vida seja medida por anos, esses anos consistem em dias, dias cheios de desafios e escolhas, esperanças e decepções. Todos os dias temos que escolher confiar nele, muitas vezes, apesar de nossas circunstâncias e apesar de toda a dor, angústia e decepções que possamos ter. Ainda hoje, em Hebraico, a palavra «dias» é frequentemente adicionada quando se fala de tempo: uma semana de dias, um mês de dias. שבוע ימים, חודש ימים. A beleza e a profundidade do Hebraico transmitem uma mensagem clara: embora nossa vida seja medida por anos, meses e semanas, esses anos, meses e semanas consistem em dias cheios de desafios e escolhas, esperanças e decepções e Deus vê e sabe a dor de cada um desses dias.

 O novo nome de José

 Muito impressionado com José, Faraó disse a seus servos: «Podemos encontrar alguém como este, um homem em quem está o Espírito de Deus?». Assim, o mesmo padrão que vimos duas vezes antes nesta história, é repetido novamente aqui:

 O Senhor esteve com José quando ele esteve diante de Faraó.

 Faraó viu que o Senhor esteve com José.

 Portanto, Faraó entregou tudo em suas mãos.

 Como um sinal da nova identidade de José, «Faraó… deu a José o nome de Tzafán-panéaj». Não há acordo entre os Egiptólogos quanto ao que este nome pode realmente significar, e até hoje não houve uma interpretação aceita por todos. A antiga tradição interpretativa Judaica, entretanto, deriva o nome Tzafán-panéaj de raízes Hebraicas (e não Egípcias): (פִּעְנֵחַ; panéaj) y (צפן; tzafán). Quais são os significados dessas raízes?

 Tzafán significa «esconder, guardar ou armazenar». Encontramos um bom exemplo nas conhecidas palavras de Salmos 119: «Tua Palavra escondi em meu coração...». (em Hebraico é: בְּ֭לִבִּי צָפַ֣נְתִּי; belibí tzfánti…). Panéaj significa «decifrar; descobrir, resolver; decodificar, interpretar». Assim, Tzafán-panéaj, o nome Egípcio de José, pode ser traduzido como: «Aquele que explica as coisas ocultas». Esse realmente poderia ser o nome que Faraó daria a José, afinal, ele interpretou os sonhos do Faraó. Além disso, este nome também pode ser traduzido como «A revelação do oculto». Então, isso refletiria não apenas a compreensão do Faraó sobre José, mas todo o plano de Deus nesta história.

 Esquecer a casa de meu pai

 Quando, depois de todo o sofrimento e provações de José, finalmente o vemos sendo bem-sucedido e influente, somos surpreendidos por um detalhe muito interessante nesta narrativa. Quando seu primeiro filho nasceu no Egito, José o chamou de Manassés: «Deus me fez esquecer (נשני; nasháni) de todos os meus trabalhos, e de toda a casa de meu pai». Esquecer a casa de seu pai! José não amava seu pai? Por que ele queria esquecê-lo? Além disso, por que José não contatou Jacó durante todos esses anos?

 Mais uma vez, gostaria de lembrar a vocês que José não sabia o que nós, leitores, sabemos, ele não sabia que seus irmãos haviam enganado seu pai e que Jacó pensava que José estava morto. Ele provavelmente estava se perguntando, especialmente durante seus primeiros anos de escravidão: «Por que meu pai não procura por mim?». O Egito é tão perto de Canaã que José provavelmente esperava que seu pai fosse procurá-lo, mas, como isso nunca aconteceu, José pode ter se convencido que o próprio Jacó estava envolvido na trama. Afinal, foi seu pai quem o enviou para verificar os irmãos. José sabia que seu pai o amava, mas ele também conhecia as histórias dos pais: Abraão amava Ismael, mas Deus escolheu Isaque; Isaque amava Esaú, mas Deus escolheu Jacó. José sabia que se fosse a vontade de Deus que ele fosse banido de sua família, seu pai aceitaria e obedeceria a essa vontade.

 Só quando os irmãos chegaram, José percebeu que Jacó não sabia nada sobre o crime. Agora ele estava ansioso para resolver seu mal-entendido, talvez até mesmo para pedir perdão e é por isso que sua primeira pergunta foi: «vive ainda meu pai?».[1]

 Os filhos de José

 Durante a celebração do sabbat nas noites de sexta-feira, os pais Judeus abençoam todos os seus filhos com a bênção sacerdotal.[2] As linhas introdutórias desta bênção dependem se a criança é menino ou menina. Para meninos, a linha introdutória é:

 «Que Deus o torne como Efraim e Manassés!».

 Por que os pais Judeus abençoam seus filhos com os nomes dos filhos de José? Por que os filhos de José foram escolhidos para essa bênção em vez dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó?

 Dois filhos nasceram de José no Egito. Em primeiro lugar, vamos tentar entender o significado original em Hebraico de seus nomes. José chamou o nome do primogênito Manassés.[3] O nome Menashe (Manassés) é derivado da raiz Hebraica נָשָׁה: «fazer esquecer». José queria esquecer todo o sofrimento e aflição que ele passou. É por isso que ele chamou seu filho de Manassés.

 O nome do segundo foi Efraim.[4] O nome Efraim é derivado da raiz פָּרָה «tornar frutífero». Evidentemente, José foi capaz de esquecer seu sofrimento e seguir em frente: tornar-se fecundo e produtivo na terra estrangeira. Além disso, o fato de que Efraim e Manassés são os primeiros irmãos na Torá cujo relacionamento não é marcado por ciúme e rivalidade, apresenta um poderoso testemunho da paz no coração de José e na casa de José.

 E ainda, há algo mais sobre esses irmãos, algo que os transformou em um paradigma para bênçãos. Esses dois filhos cresceram no exílio, completamente separados de sua extensa família, mas obviamente permaneceram fiéis a Israel e ao Deus de Israel. Portanto, antes de sua morte, Jacó seleciona os dois filhos de José para as bênçãos ao longo dos tempos. Há uma mensagem poderosa nesta bênção. Quando dizemos aos nossos filhos: «Que Deus os torne como Efraim e Manassés», desejamos que eles estejam sempre espiritualmente conectados ao seu povo e a seu Deus, independentemente de onde vivam e cresçam.

 [1] Gênesis 45:3.

[2] Números 6:24-26.

[3] Gênesis 41:51.

[4] Gênesis 41:52.

 

 

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