sábado, 18 de maio de 2019

Não deixe a Escola Dominical morrer em sua igreja


Não deixe a Escola Dominical morrer em sua igreja



Muitas igrejas cujos pastores prezam pela saúde espiritual do rebanho ainda estão zelando pelo ensino bíblico e teológico

Fundada há mais de 230 anos pelo crente episcopal e também jornalista inglês Robert Raikes, a Escola Dominical “viralizou” pelo mundo inteiro como um movimento de ensino popular e sistemático da Bíblia sagrada, além de outras disciplinas seculares que eram comuns nos primórdios deste movimento (língua materna, matemática, história, etc.).

Um crescimento extraordinário


De Gloucester, na Inglaterra, as Escolas Dominicais rapidamente ganharam fama pelas cidades vizinhas. Em apenas quatro anos (1780-1784) já havia o extraordinário número de 250 mil alunos matriculados; e quando o pioneiro Raikes morreu em 1811, ele deixou o legado de muitas escolas pautadas nos valores cristãos com cerca de 400 mil alunos matriculados, a maioria absoluta composta de crianças. Ninguém irá duvidar que a Escola Dominical é um movimento avivado pelo Espírito, senão, doutro modo, jamais teria alcançado tamanha proporção em tão pequeno tempo, e com resultados tão positivos.


O casal de missionários escoceses Robert e Sarah Kalley chegam ao Brasil e em 1855 iniciam com apenas cinco crianças uma classe de Escola Dominical em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Aquele tímido começo foi se agigantando e resultou no início da Igreja Congregacional no Brasil. Sim, uma grande igreja começou numa pequena Escola Dominical! O amor e a persistência dos missionários foram honrados. As sementes frutificaram e grande tem sido a colheita até hoje para a glória de Deus!

Há quem especule que o número de alunos e professores frequentes na Escola Dominical em todo mundo já ultrapasse a casa dos 60 milhões. Para glória de Deus, posso dizer que faço parte desse número. E você?

A Escola Dominical compensa


Muitas igrejas cujos pastores prezam pela saúde espiritual do rebanho ainda estão zelando pelo ensino bíblico e teológico regular através das Escolas Dominicais. Nem todos os membros têm tempo ou condições financeiras de fazerem uma faculdade ou seminário de teologia durante a semana; as crianças, ainda que quisessem, não poderiam se matricular nessas instituições, e muito dificilmente os adolescentes teriam este privilégio. Na Escola Dominical, porém, toda a família pode se matricular, frequentar gratuitamente e com um investimento baixíssimo: em média, 10 reais a cada três meses, que é o preço da revista com as Lições Bíblicas.

Embora muitas escolas estejam funcionando em outros dias da semana, até para melhor acomodar a membresia local, o domingo ainda continua sendo o dia preferido da Escola Dominical, visto que, em geral, é um dia de folga dos trabalhos e estudos seculares. Dia propício para as famílias se congregarem, e, em cada classe dividida por faixa etária, aprenderem a “gramática do céu”, as sagradas Letras (2Tm 3.15).

A Escola Dominical coopera para o cumprimento da grande Comissão: “Fazei discípulos de todas as nações… ensinando-os a guardar tudo que vos tenho ordenado” (Mt 28.19,20). Não só com as classes de Discipulado para novos convertidos, senão também com o discipulado contínuo, que é a formação doutrinária e ética dos membros e congregados da igreja local, incluindo as próprias lideranças. A Escola Bíblica Dominical, ou apenas EBD, como é carinhosamente chamada, é um braço direito para os pastores na instrução dos membros, e também para os pais, na instrução dos filhos. Como dizia o pastor Antônio Gilberto, um dos maiores nomes da educação cristã no Brasil, “A Escola Dominical também coopera eficazmente com o lar, na formação dos hábitos cristãos legítimos, práticas e deveres sociais bíblicos, resultando na formação do caráter ideal, segundo os princípios do genuíno cristianismo”.
  
Bons obreiros, pregadores e evangelistas são forjados nas classes da Escola Dominical, onde aprendem a ler e interpretar as Escrituras, bem como são instruídos nas doutrinas basilares da fé cristã, além de desenvolverem um senso espiritual aguçado para perceber distorções e heresias prejudiciais à Igreja do Senhor. Mas infelizmente, há muitas igrejas onde nem os pregadores, nem os obreiros e nem mesmo os pastores estão interessados em fortalecer a EBD. Daí as portas estão escancaradas para os modismos, invencionices, falsos ensinos, emocionalismo barato e heresias que trarão prejuízos caríssimos a estas congregações!

Falta de Bíblia: portas escancaradas para o engano

Igrejas que negligenciam a Escola Dominical demonstram seu desinteresse pela Palavra de Deus, ainda que seus templos lotem nos cultos à noite. Igrejas que amam a Palavra e sabem o valor vital que ela tem, amam e frequentam a Escola Dominical, honram seus professores e dirigentes, investem na estrutura física, acolhem os alunos e sempre buscam outros mais, visto que “ainda há lugar” (Lc 14.22).

Igrejas que não amam a Palavra, cancelam a EBD e despedem as famílias para o lazer dominical; ou, na melhor das hipóteses, deixam ela funcionando às mínguas, até onde os professores e alunos aguentarem. Há pastores que matam a Escola Dominical, substituindo-a sempre por uma festividade, por um café de confraternização ou por outros eventos diversos que não contribuem para o fortalecimento espiritual e o crescimento teológico do rebanho. O fogo de palha tem tomado o lugar do genuíno fogo do Espírito em muitas igrejas!

O pastor batista Russel Shedd discorre sobre esse quadro de raquitismo doutrinário e de superficialidade espiritual em que muitas igrejas se encontram, enquanto negligenciam suas Escolas Dominicais: “A diminuição de alunos nas escolas bíblicas dominicais já aconteceu nos Estados Unidos e acontece também aqui. As pessoas querem uma religião já pronta, na qual não seja preciso gastar tempo, nem estudar. Crescer no conhecimento das coisas de Deus é menos interessante do que ganhar dinheiro, prosperar, ter uma vida melhor. As coisas vão ficando muito superficiais”.

Que triste, porém, verdadeira constatação! Precisamos resistir a essa tentativa de enfraquecer e anular a Escola Dominical. Por trás da desvalorização da EBD está satanás que tem todo interesse em desviar a Igreja da genuína Palavra, e fazê-la definhar em anorexia espiritual! Há muitos trabalhos de ensino disponibilizados pelas igrejas, nenhum deles, porém, se iguala à EBD em sua proposta de ensino bíblico popular para todas as faixas etárias. Não é de se estranhar que o inimigo tenha proposta na mente de muitos pastores substituírem tão importante trabalho por outros de menor relevância.

Valorizar o trabalho dos voluntários da EBD, investir em estrutura e recursos didáticos, oferecer formação continuada para melhor qualificação dos professores, divulgar a Escola Dominical e frequentá-la regularmente são atitudes que repercutirão na vida da igreja, uma vida espiritual mais saudável e solidificada na Bíblia sagrada.

Líderes da EBD, façamos a nossa parte

Concluo com as palavras do famoso pregador inglês, John Wesley, que foi contemporâneo de Robert Raikes e acompanhou o início do movimento das Escolas Dominicais na Inglaterra: “Estou convencido de que essas Escolas Dominicais são a instituição mais nobre, vista desde alguns séculos na Europa, e crescerão cada vez mais, contando que os seus professores e dirigentes cumpram seus deveres”. Ditas no século 18, estas palavras continuam sendo grande estímulo para as lideranças da EBD neste século 21! Se nos empenharmos, a Escola Dominical vai crescer; se negligenciarmos, a Escola Dominical vai morrer e com ela a própria igreja local!

Não deixe a Escola Dominical morrer em sua igreja!


Desmistificando a palavra Rhema


Desmistificando a palavra Rhema


Com o advento dos dons espirituais aflorando no meio eclesiástico, os púlpitos evangélicos passaram a respirar carisma e tudo basicamente que nasce nessas tribunas tem ou acaba tendo um fundo carismático e isso é muito importante, porque a obra de Deus deve ser realizada no poder do Espírito.

Desta feita, vão surgindo experiências entre o povo de Deus, algumas espirituais, já outras emocionais, sendo que as emocionais acabam ganhando mais força e notoriedade, por meio dos pregadores que ministram de modo emocional e que gostam de frases de efeito, chavões evangélicos, tipologias e figuras de linguagem, sendo que, para legitimar suas prédicas, costumam afirmar que possuem uma “revelação”, baseados na palavra Rhema.

Infelizmente esta é uma realidade que acontece principalmente nas igrejas neopentecostais e ultra pentecostais, já que infelizmente, muitos pregadores não buscam compreender o estudo do texto de modo profundo, mas, para legitimar suas falas, botam tudo na conta de Deus, afinal, quem irá ter a coragem de questionar estes pregadores, que afirmam que possuem uma compreensão de um texto bíblico que ninguém alcançou, nem mesmo os maiores especialistas em exegese bíblica.

Baseados no achismo e na eisegese[1], os pregadores da confissão positiva procuram criar uma diferença entre os termos gregos “logos” e “rhema”, pois alegam que “logos” é a palavra escrita de Deus (como a temos na Bíblia), ao passo que, “rhema” é a palavra revelada de Deus para cada indivíduo através do Espirito Santo para uma situação específica, portanto, “Rhema” é a “palavra” que eles usam para “decretar” com o objetivo de trazer a prosperidade ou cura, e legitimar qualquer “revelação” de um ponto de vista pessoal sobre uma passagem bíblica.

Portanto, em nome da Rhema, muitas heresias já foram legitimadas e interpretações absurdas foram sendo absorvidas pela igreja, afinal, quem irá questionar um ministro da palavra que afirma ter tido uma Rhema de Deus.

Entretanto, diametralmente oposto aos ensinos da confissão positiva, as palavras gregas “rhema” e “logos”, são usadas alternadamente no texto da septuaginta[2], que traduz tanto “logos” como “rhema” a partir da palavra hebraica “dabar”, que significa “palavra falada ou escrita; discurso, ou assunto do discurso, uma unidade mínima do discurso”, sendo que basicamente a única diferença existente entre “logos” e “rhema” é apenas de estilo literário e não de significado.

Sendo assim, basta um estudo mais profundo de ambos os termos, para concluirmos que não existe nenhuma diferença entre estes dois vocábulos no grego original, onde, muitas vezes, eles são usados como sinônimos. Portanto, o termo “rhema” significa “palavra, qualquer coisa falada, assunto do discurso”, enquanto “logos” apresenta uma extensa variedade de significados como: “palavra, discurso, pregação, relato, etc.”. Mas ambos os termos são concordantes.

Baseado na exegese[3] o Dr. Russel Shedd de saudosa memória, afirmou que Pedro não fez distinção sobre estes termos em sua primeira carta, capítulo 1.23-25: “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra (logos) de Deus, viva que permanece para sempre.

Porque toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas a palavra (rhema) do Senhor permanece para sempre; e esta é a palavra (rhema) que entre vós foi evangelizada”.[4]

Deste modo, como podemos observar, na mente do apóstolo não havia distinção entre estas palavras. Sendo assim, fica desfeita a pretensão dos proponentes da Confissão Positiva que querem forçar uma interpretação exagerada destes termos.

Portanto, analisando o quadro atual do movimento evangélico, observamos que a falta de ensino teológico de qualidade, acaba criando campo para os exageros como o triunfalismo e a confissão positiva que são muito comuns nas chamadas igrejas neopentecostais.

Como cristãos e conhecedores da Teologia Bíblica, devemos cuidar com aqueles que procuram legitimar sua fala por meio de uma rhema “revelação” única e inquestionável sobre uma passagem bíblica.

Entretanto, o estudante da Bíblia, pode claramente observar que esta diferenciação entre “logos” e “rhema” não tem base bíblica e representa o momento típico dos dias em que vivemos, onde o triunfalismo, a confissão positiva, o reteté e o ultra pentecostalismo ganham força, pois, muitos não querem ler, e muito menos analisar com cuidado e amor a palavra de Deus.

[1] Eisegese: interpretação de acordo com os pressupostos pessoais e emocionais.
[2] Septuaginta: tradução dos setenta, quando o texto foi traduzido do hebraico, para o grego.
[3] Exegese: interpretação de dentro do texto para fora, ou seja, conforme as regras corretas de interpretação do texto bíblico.
[4] ROMEIRO, Paulo. Super crentes. São Paulo: Mundo Cristão, 1993, p. 26.