terça-feira, 5 de junho de 2018

Aprendendo a amar

Aprendendo a amar

“E amarás o Eterno, teu Deus, com todo o teu coração…”(Deuteronômio 6:5)

Na Torá, somos ordenados a amar. Amar a Deus, amar o próximo, amar o convertido… Como pode ser? No mundo atual, somos bombardeados com referências que insistem que o amor é espontâneo, incompreensível, talvez até mesmo mágico. Como então podemos ser obrigados a sentir um amor verdadeiro desta forma? Será que podemos aprender a amar?

“E amarás ao teu próximo como a ti mesmo”(Levítico 19:18) é, em hebraico, Veahavtá lereachá camôcha. É utilizada a preposição LE־reachá, ao teu próximo, e não o artigo ET reachá, o teu próximo. A letra lamed, cujo som corresponde ao L, quando usada nesta construção, tem o significado da preposição “para”. Portanto, amar é agir para alguém, e amor é doação. Talvez este seja o melhor sinônimo ou significado da palavra, de acordo com a Torá – amar é dar.

Um dos amores mais naturais e óbvios que podemos usar como exemplo é amor maternal ou paternal. Quando nasce um bebê, seus pais têm de suprir todas as suas necessidades. Passam meses trocando fraldas, alimentando, dando banho, fazendo uma série de ações para o bem do bebê sem receber nenhum tipo de reconhecimento, às vezes nem mesmo um sorriso, apenas mais fraldas sujas e mais choro inconsolável. E não há ninguém no mundo que eles amem mais. Eles continuam lá, firmes e fortes, dando de si, de seu tempo, para aquela pequena criatura. Quanto mais eles se dedicam ao filho, mais o amam, pois o ser humano aprecia tudo aquilo pelo que se esforça a fazer. Os pais passam a vida se dedicando aos filhos, por isso esse amor nunca diminui ou se extingue, só cresce e se intensifica.

Mas e o amor que não é natural, como por exemplo aquele que se desenvolve a partir de uma atração, ou mesmo do sentimento de paixão? Num relacionamento amoroso, nos traz satisfação agradar nosso parceiro, presenteá-lo, aprimorar nossas características para atender às suas necessidades, sair de nossa zona de conforto para suprir suas vontades. Nos doamos continuamente, cultivando assim esse sentimento e desenvolvendo constantemente esta relação. Esse mesmo raciocínio vale para o amor presente em uma amizade, em que investimos nosso tempo e interesse e recebemos em troca convivência e atenção de alguém cuja companhia nos traz conforto e alegria.

O nome da letra lamed corresponde à raiz Lamad, do verbo Lilmod, estudar, aprender. Coincidência? Claro que não, pois podemos aprender a amar qualquer um, é só nos doarmos para alguém, investir nosso tempo e esforço em um relacionamento. Um dos grandes psicanalistas, filósofos e sociólogos do século XX, Erich Fromm, escreveu: “O primeiro passo é tornar-se consciente de que o amor é uma arte, assim como a vida é uma arte. Se queremos aprender a amar, devemos proceder da mesma forma como se fôssemos aprender qualquer outra arte, como a música, pintura, carpintaria ou a medicina e engenharia.”

Para manter este amor, é só continuar esta fórmula. Para um relacionamento amoroso perdurar é necessária a constante doação de um indivíduo para o outro; um intermitente esforço, às vezes maior e mais significativo, às vezes menor e mais natural, porém sempre presente.

O Cântico dos Cânticos é um dos livros mais românticos da Bíblia Hebraica. Ele foi escrito pelo Rei Salomão e descreve a relação de amor entre Deus e o Povo Judeu usando como metáfora a relação de amor entre um homem e uma mulher. Dentre os versículos mais famosos está Ani Ledodi Vedodi Li, “eu sou para o meu amado e meu amado é para mim” (Cântico dos Cânticos 6:3).

Novamente podemos ver a preposição le, nos mostrando que o amor é esse relacionamento de doação recíproca. E aqui aprendemos mais uma lição: se Ani Ledodi –se demonstrarmos nosso amor, continuarmos nos dedicando a alguém, então, e certamente, Dodi Li – seremos também amados. E quando isso acontece, essa é a verdadeira união. Não é por acaso que a guematria (valor numérico) da palavra ahava, amor, é 13, mesmo valor da palavra echad, um.

O amor é um sentimento poderoso, capaz de revolucionar o mundo. Somos ordenados por Deus a amar, a dar de nós aos nossos semelhantes. O objetivo de todos nessa vida é justamente amar, dar, fazer o bem, todos os dias, indiscriminadamente. Podemos praticar com nossos familiares, amigos, com animais de estimação, vizinhos, colegas… e aprender, assim, qual o verdadeiro significado de amar a Deus.

sábado, 2 de junho de 2018

A vida da igreja cheia do Espírito Santo



A vida da igreja cheia do Espírito Santo (2.42-47)
                           A igreja de Jerusalém conjugava doutrina e vida, credo e conduta, palavra e poder, qualidade e quantidade. Hoje vemos igrejas que revelam grandes desequilíbrios. As igrejas que zelam pela doutrina não celebram com entusiasmo. As igrejas ativas na ação social desprezam a oração. Aquelas que mais crescem em número mercadejam a verdade. Ao contrário disso, a igreja de Jerusalém era unificada (2.44), exaltada (2.47a) e multiplicada (2.47b).
Quais são as marcas de uma igreja cheia do Espírito Santo.

Em primeiro lugar, uma igreja cheia do Espírito é comprometida com a fidelidade à Palavra de Deus (2.42).
A igreja de Jerusalém nasceu sob a égide da verdade.
A igreja começou com o derramamento do Espírito, a pregação cristocêntrica e a permanência dos novos crentes na doutrina dos apóstolos. A doutrina dos apóstolos é o inspirado ensino pregado oralmente naquele tempo, e agora preservado no Novo Testamento. Stott diz que o Espírito Santo abriu uma escola em Jerusalém; seus professores eram os apóstolos que Jesus escolhera; e havia 3 mil alunos no jardim da infância. A igreja apostólica era uma igreja que aprendia. Com isso, deduzimos que o antiintelectualismo e a plenitude do Espírito são incompatíveis, pois o Espírito Santo é o Espírito da verdade. O Espírito de Deus leva o povo de Deus a submeter-se à Palavra de Deus. Justo González destaca que o perseverar no ensino dos apóstolos não quer só dizer que o povo não se desviou das doutrinas apostólicas ou permaneceu ortodoxo. Quer dizer também que eles perseveraram na prática de aprender com os apóstolos — que eram alunos, ou discípulos, ávidos por conhecimento sob o comando dos mestres.
Ao longo da história houve muitos desvios da verdade: às heresias da Idade Média; a ortodoxia sem piedade; o Pietismo — piedade sem ortodoxia; os quacres — o importante é a luz interior; o movimento liberal — a razão acima da revelação; e o movimento neopentecostal — a experiência acima da revelação.
Deus tem um compromisso com a Palavra. Ele tem zelo pela Palavra. Uma igreja fiel não pode mercadejar a Palavra

Em segundo lugar, uma igreja cheia do Espírito é perseverante na oração (2.42).
Uma igreja cheia do Espírito ora com fervor e constância. A igreja de Jerusalém não apenas possuía uma boa teologia da oração, mas efetivamente orava.
Ela dependia mais de Deus do que dos próprios recursos: Atos 1.14 — Todos unânimes perseveravam em oração; Atos 3.1 - Os líderes da igreja vão orar às 3 horas da tarde; Atos 4.31 - A igreja sob perseguição ora, o lugar treme e o Espírito desce; Atos 6.4 - A liderança entende que a sua maior prioridade é oração e a Palavra; Atos 9.11 – O primeiro sinal que Deus deu a Ananias sobre a conversão de Paulo é que ele estava orando; Atos 12.5 - Pedro está preso, mas há oração incessante da igreja em seu favor e ele é miraculosamente libertado; Atos 13.1-3 — A igreja de Antioquia ora e Deus abre as portas das missões mundiais; Atos 16.25 — Paulo e Silas oram na prisão e Deus abre as portas da Europa para o evangelho; Atos 20.36 - Paulo ora com os presbíteros da igreja de Éfeso na praia; Atos 28.8,9 - Paulo ora pelos enfermos da ilha de Malta e os cura.

Em terceiro lugar, uma igreja cheia do Espírito tem uma profunda comunhão (2.42,44-46).
Em uma igreja cheia do
Espírito os irmãos se amam profundamente. Na igreja de Jerusalém os irmãos gostavam de estar juntos (2.44). Eles partilhavam seus bens (2.45). Eles apreciavam estar no templo (2.46) e também nos lares (2.46b). Havia um só coração e uma só alma. Onde desce o óleo do Espírito, aí há união entre os irmãos; aí ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre (SI 133). Os crentes eram sensíveis para ajudar os necessitados (2.44,45). Eles converteram o coração e o bolso. Tinham desapego dos bens e apego às pessoas. Encarnaram a graça da contribuição. Concordo com Stott quando ele diz que a comunhão cristã e o cuidado cristão é compartilhamento cristão. Justo González enfatiza que o partir do pão não significa apenas que eles comiam junto. Refere-se à celebração da comunhão, que desde o início e por muitos séculos, é o centro da adoração cristã.

Em quarto lugar, uma igreja cheia do Espírito adora a Deus com entusiasmo (2.47).
Uma igreja cheia do Espírito canta com fervor e louva a Deus com entusiasmo. O culto era um deleite. Eles amavam a casa de Deus. Uma igreja viva tem alegria de estar na casa de Deus para adorar. A comunhão no templo é uma das marcas da igreja ao longo dos séculos. O louvor da igreja era constante. Uma igreja alegre canta. Os muçulmanos têm mais de um bilhão de adeptos no mundo, mas eles não cantam. Uma igreja viva tem um louvor fervoroso, contagiante, restaurador, sincero, verdadeiro. O louvor que agrada a Deus tem origem no próprio Deus, tem como propósito exaltá-lo e tem como resultado quebrantamento dos corações. O culto verdadeiro produz reverência e alegria, pois, se a alegria do Senhor for obra do Espírito, o temor do Senhor também será autêntico.

Em quinto lugar, uma igreja cheia do Espírito teme a Deus e experimenta os seus milagres (2.43).
Uma igreja cheia do Espírito é formada por um povo cheio de reverência. Ela tem compreensão da santidade de Deus. Ela se curva diante da majestade de Deus. Hoje as pessoas estão acostumadas com o sagrado. Há uma banalização do sagrado. Há saturação, comercialização e paganização das coisas de Deus. Quem conhece a santidade de Deus não brinca com as coisas de dele. A igreja de Jerusalém era reverente e também receptiva ao agir soberano de Deus. Tinha a agenda aberta para as soberanas intervenções do Senhor. Acreditava nos milagres de Deus. A manifestação extraordinária de Deus estava presente na vida da igreja: Atos 3 — 0 paralítico é curado; Atos 4.31 — O lugar onde a igreja ora, treme; Atos 5.12,15 — Muitos sinais e prodígios são efetuados; Atos 8.6 — Filipe realiza sinais em Samaria; Atos 9 — A conversão de Saulo é seguida da sua cura; Atos 12 — Pedro é libertado pelo anjo do Senhor; Atos 16.26 - Ocorre um terremoto em Filipos; Atos 1 9 .11 - Pelas mãos de Paulo, Deus fazia milagres; Atos 28.8,9 - Deus cura os enfermos de Malta pela oração de Paulo. Hoje há dois extremos na igreja: aqueles que negam os milagres e aqueles que os inventam.
Em sexto lugar, uma igreja cheia do Espírito tem a simpatia dos homens e a bênção do crescimento numérico por parte de Deus (2.47).
 Essa igreja é simpática e amável. Ela é sal e luz. E boca de Deus e monumento da graça. Essa igreja tem qualidade e também quantidade. Cresce para no alto e também para os lados. Mostra vida e também números. A igreja de Jerusalém produziu impacto na sociedade por causa de seu estilo de vida. Era uma igreja comprometida com a verdade, mas não legalista; era uma igreja santa, mas não farisaica; era uma igreja piedosa, mas não com santorronice. Os crentes eram alegres, festivos, íntegros. Eles contagiavam. O estilo de vida da igreja impactava a sociedade: melhores maridos, esposas, filhos, pais, estudantes, profissionais. O resultado da qualidade é a quantidade. Deus mesmo acrescentava a essa igreja, dia a dia, os que iam sendo salvos. Temos hoje dois extremos: necrolatria e numero fobia. Precisamos entender que qualidade gera quantidade.