sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

LEMBRA-TE DO TEU CRIADOR


ECLESIASTES 12
1. “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias”. A exortação aqui tem o sentido daquela:
“Se, hoje, ouvirdes a sua voz, não endureçais os corações” (Sl 95.7,8; Hb 3.7,8; 4.7).
Diante da brevidade da vida, é conveniente aproveitar a juventude mantendo harmonia com as determinações do Criador.
Os “maus dias” são de angústia, de calamidade, alheios ao prazer. A mocidade não pertence ao moço, mas ao Criador. Salmos 100.3
(ARA) diz: “Sabei que o Senhor é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio”. Agradar a Deus prolonga a alegria até a velhice.
2. ‘Antes que se escureçam o sol... e a lua, e as estrelas” .Esses astros representam a prosperidade. Se deixarem de iluminar, anunciam prejuízo, decadência e fracasso: “E tomem a vir as nuvens depois da chuva”. Nuvens lembram trevas ou escuridão, que no Antigo Testamento quer dizer incapacidade de desfrutar alegria, tristeza, infelicidade.
Depois de uma chuva que trouxe colheita e lucro, vêm outras nuvens com inundação, prejuízo e calamidade. A velhice é comparada a uma situação em que já houve tempestade e vêm mais nuvens e inundações.
3. “... tremerem os guardas da casa”. As mãos e os braços protegem o corpo. São esses guardas que pela velhice chegam a tremer (Gn 49.24). “E se curvarem os homens fortes” refere-se às pernas e aos joelhos, que se encurvam pela idade. “Cessarem os moedores” são os dentes que vão caindo. “... os que olham pelas janelas”. Esses são os olhos que escurecem, ficam mais fracos com
o tempo.
4. “... as duas portas da rua se fecharem”. Faltando os dentes, os lábios se fecham mais para a mastigação. O salmista pede que o Senhor guarde essas portas. “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141,3). “Baixo ruído da moedura” também se traduz assim: “No dia em que não puderes falar em alta voz”. Sem os dentes, o barulho da mastigação diminui, “...se levantar à voz das aves”. Os velhos se levantam cedo, quando
os passarinhos cantam e eles não dormem mais: “... todas as vozes
do canto se baixarem”. Os órgãos ligados ao canto ficam mais fracos: a voz e o ouvido.
5. “... temeres o que é alto e te espantares no caminho” (ARA).
A pessoa idosa tem medo de subir ladeiras e, mesmo no plano, a distância parece grande para o velho. “... florescer a amendoeira”.
A amendoeira, no Oriente, floresce quando as outras árvores não têm flor, e suas flores são alvas. A amendoeira fica branca, quando as árvores são escuras com a folhagem verde. O velho com os cabelos brancos no meio dos jovens parece com a amendoeira. “...0
gafanhoto for um peso”. 0 idoso, com a espinha curva, a cabeça alva, os braços e as pernas mais finas, joelhos arqueados e apófise aumentada, era comparado ao gafanhoto.
A figura do gafanhoto ilustra o peso e o desgosto trazidos pela velhice. “Vai à sua eterna casa” refere-se ao outro mundo. “... perecer o apetite” entende-se como falta de satisfação ou paz na vida. “... os pranteadores rodeando a praça” são os lamentadores profissionais que choravam diante de um morto para ganhar dinheiro (Jr 9.17;
Mc 5.38). Também podem ser os parentes desejando que o velho morra para se apossarem da herança.
6. “Cadeia de prata... e... copo de ouro”. Essa figura lembra a extensão da vida. Havia naquele tempo um tipo de lâmpada pendurada por um cordão. Quando se partia o cordão, a lâmpada caía e se apagava. Partindo-se o fio da vida, o homem desaparece deste mundo, “...se despedace o cântaro junto à fonte e... a roda junto ao poço”. Todas essas ilustrações descrevem o fim dessa vida.
7. “E o pó volte à terra... e o espírito... a Deus, que o deu”. “Pó” é o corpo decomposto (Gn 3.19), “espírito”, parte imaterial, a imortalidade. Na morte, há uma separação entre o corpo e o espírito (Lc 16.22,23; At 7.59; Fp 1.23). O espírito no homem é o princípio
de vida e inteligência. Quando se separa do corpo, este se transforma em pó. Nesse verso volta a idéia do que vai “para cima” e “para baixo” mencionado em 3.21, ou o outro contraste entre “terra” e “céu” em 5.2.
O Novo Testamento ajuda a compreender o destino do homem mediante a obra de Jesus Cristo. Paulo diz em 2 Timóteo 1.10: “... nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho”.
8. “Vaidade de vaidades”. A referência à velhice e à mente faz o Pregador voltar ao sentimento do começo do livro (1.2). A tese começada antes chega agora ao seu fim. A decadência física e a volta do corpo ao pó da terra são argumentos fortes para advertir os homens que se lembrem da preparação para a eternidade.
9. “O Pregador, além de sábio, ainda ensinou ao povo o conhecimento” (ARA). Ensinou bem porque apresentou os deveres para com Deus. “Compôs três mil provérbios” (1 Rs 4.32). Essa palavra “provérbio”, do hebraico masal, tem muitos sentidos, podendo ser “máxima, enigma, parábola, comparação” etc.
Nesse verso, “o sábio ensinou ao povo” representa a parte oral, e “compôs provérbios” representa a parte que escreveu.
10. “Procurou... palavras agradáveis”. Tomou interesse em deleitar os ouvintes e transmitir a verdade estimulando o bom procedimento. Seu desejo é adaptar sua palavra à realidade da vida.
Finalmente, escreveu e falou usando de retidão. Reuniu em seu ensino a verdade, realidade das coisas, um modo agradável que deliciasse os ouvintes e leitores, e usou de toda a honestidade.
11. “As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos bem fixados as sentenças coligidas” (ARA). ‘Aguilhões” eram varas de ponta usadas para castigar os bois no trabalho. “Pregos”—peças de ferro ou de outro metal usadas para fixar as partes dos móveis e outros utensílios. “Sentenças coligidas” são lições preparadas por mestres para transmitirem o ensino aos alunos. Nesse verso há um paralelismo definindo as palavras dos sábios com três ilustrações.
São como “aguilhões...” como “pregos...” e como “sentenças coligidas”.
“Dadas pelo único Pastor”. Esse título só pode ser dado a Jesus Cristo. Tem havido muitos pastores bons e maus; porém, falando do único, só Jesus Cristo merece o título. Em 1 Pedro 5.2-4, ele é “o Sumo Pastor”. A sabedoria de Deus inspirou os autores das Escrituras Sagradas para formarem um tratado único. A lição transmitida por um servo de Deus não é somente de aplicação pessoal, mas serve para completar a unidade da revelação.
12. “Não há limite para fazer livros”. As produções humanas são incontáveis, especialmente na produção de livros. Os escritos mais antigos eram gravados em placas de barro, depois em papiro, uma espécie de papel formado de uma planta, em seguida usaram pergaminhos que eram de couro. Salomão, conhecendo a grande quantidade de escritos do seu tempo, podia dar testemunho de que não há limite para fazer livros. “O muito estudar enfado é da carne”. Quem estuda demais sem cuidar da saúde do corpo pode até morrer antes do tempo.
Se alguém estuda os escritos dos homens buscando a paz e a felicidade, chega à decepção (1.18). A palavra “carne” quer dizer fraqueza, limitação física, energia do corpo.
13. A conclusão do livro é: “Teme a Deus e guarda os seus mandamentos”. É o antídoto contra o seguir a vaidade e o andar sem Deus (7.16,18). 0 temor de Deus é o reconhecimento do seu poder e sua justiça (3.14). É o princípio da sabedoria (Sl 111.10; Pv
1.7; 9-10) e é também o fim, a conclusão de todo o ensino do
Pregador no livro de Eclesiastes. “Este é o dever de todo homem”. A finalidade desta vida é temer a Deus. Quem ainda não aprendeu essa lição está perdido neste mundo.
14. “Deus há de trazer a juízo toda obra”. O juízo de Deus revelará a vaidade dos ímpios e o valor da obediência à Palavra de Deus: “... até tudo o que está encoberto”. Os pecados não confessados são conhecidos por Deus e serão julgados no dia determinado para isso. O Deus anunciado pelo Pregador combina a graça (2.24; 9-7-9) com o julgamento (11.9; 12.14).

Temos visto em comentários de autores não evangélicos que o fato de o livro de Eclesiastes terminar com a palavra “mau” não soaria bem. Dizem eles que os que copiarem ou comentarem esse livro devem repetir o verso 13 depois do 14 (também Isaías, Malaquias e Lamentações terminam com uma palavra desagradável). Achamos, porém, que se o original, o texto hebraico que recebemos dos judeus, termina com essa palavra, devemos aceitá-la, porque ela completa uma sentença que expressa à revelação de Deus.

PROVIDÊNCIAS SÁBIAS DIANTE DO DESCONHECIDO

Eclesiastes 11.1- 6 

O capítulo 9 de Eclesiastes fala sobre os acontecimentos inesperados, enquanto o 10 versa sobre problemas no governo e o modo como eles impactam a vida dos cidadãos. Diante das inseguranças da vida e da contrariedade das condições que, muitas vezes, é enfrentada pelas pessoas, o Pregador se preocupa em fornecer subsídios, no capítulo 11, para que seus leitores ajam de maneira sábia neste mundo de incertezas. Segundo sua exposição, há um modo certo de se viver mesmo nas situações mais incertas.

Esse trecho está disposto de tal modo que há três pares de versículos (1-2, 3-4, 5-6). Os versículos 1 e 2 instruem a pensar no bem e no mal que podem ocorrer no futuro, trabalhando pelo bem, mas se preparando também para enfrentar o mal. Os versículos 3 e 4 encorajam os leitores a se esforçar mesmo diante das incertezas e das situações inevitáveis que recaem sobre os homens. Por fim, os versículos 5 e 6 ensinam que o desconhecimento a respeito dos planos e da atuação de Deus deve levar seus servos ao trabalho duro, esperando nele a concretização dos seus esforços.

Assim, o primeiro conselho do escritor abrange a área dos negócios ou investimentos a longo prazo (v.1): “Atire o seu pão sobre a face das águas, pois muitos dias depois você o encontrará”. A tradução dessa frase não é difícil, mas sua compreensão sim. Os exegetas normalmente se dividem entre três possibilidades de interpretação, enxergando nela um pano de fundo agrícola, filantrópico ou comercial. No primeiro caso, o texto apontaria para algum tipo de plantio em terrenos alagados ou áreas de enchentes anuais, comuns no Egito, nas proximidades do rio Nilo. Assim, o escritor estaria aconselhando seus leitores a investir no plantio a fim de que, dentro de algum tempo, pudessem colher. Uma dificuldade dessa posição é o fato de que nenhum tipo de plantio em áreas alagadiças se encaixa bem em uma colheita a ser feita depois de “muitos dias”, tratando-se de culturas mais rápidas. Outra dificuldade é que seria pouco produtivo utilizar a comparação com uma realidade tão afastada e alheia à experiência israelita ou do próprio escritor a fim de transmitir uma ideia que deveria ser bem-compreendida e causar bastante impacto nos leitores.

O segundo caso, envolvendo o pano de fundo da filantropia, vê a ação de atirar o pão como um modo de auxiliar os necessitados, dando-lhes o que precisam para sua sobrevivência. O que não fica claro é de que modo a filantropia, apesar de ser recomendada em diversas partes das Escrituras, faria com que aquele que a promove venha a encontrar tal pão depois de muitos dias. Alguns sugerem que as pessoas ajudadas com o pão retribuiriam o favor caso seu benfeitor passasse por dificuldades no futuro. Só que, nesse caso, a filantropia perderia sua característica de ajuda amorosa e desinteressada para se tornar um investimento calculado. Isso transformaria o auxílio a necessitados em mera atuação interesseira — porém, incerta, já que não é possível garantir que os ajudados melhorarão de vida a ponto de poder retribuir o favor ou que tenham a mesma disposição no futuro.

O entendimento mais comum recai, então, sobre a figura de um comerciante que opera uma frota de navios. Isso, certamente, tem muito a ver com a experiência do próprio rei Salomão: “Porque o rei tinha no mar uma frota de Társis, com as naus de Hirão; de três em três anos, voltava a frota de Társis, trazendo ouro, prata, marfim, bugios e pavões” (1Rs 10.22). Assim, além de se valer de uma realidade ligada a si mesmo e conhecida por seus súditos, o quadro geral parece fazer mais sentido, já que os empreendimentos comerciais de Salomão nessa área — navios enviados com mantimentos “sobre a face das águas” a fim de voltar com lucros — eram um investimento a longo prazo. Sendo assim, a frase “atire o seu pão sobre a face das águas” poderia ser parafraseada como “envie seus grãos em navios”. Portanto, o ensino seria que, diante das incertezas sobre o futuro, é preciso tomar providências justamente pensando nos dias que virão. Trata-se de um alerta sobre a necessidade de pensar bem adiante — ainda que pareça que demorará muito tempo para chegar lá — investindo sabiamente tanto o tempo como os recursos. O fato é que a falta de preparo no presente para os dias futuros faz com que eles sejam menos incertos e quase garantidamente mais difíceis. Alguns preparos precisam ser feitos logo, pois seus resultados demoram “muitos dias” para serem sentidos.

Pensando ainda na incerteza quanto aos acontecimentos futuros, o Pregador ensina outro procedimento sábio e precavido (v.2): “Divida suas posses em sete ou mesmo em oito partes, pois você não sabe que calamidade virá sobre a terra”. A menção aos números “sete” e “oito” não tem a intenção de sugerir que apenas essa quantidade de divisões dos patrimônios e investimentos atende ao padrão do procedimento sábio. Essa justaposição numérica, na literatura hebraica do Antigo Testamento, serve geralmente para expressar um total indefinido, sem a intenção de ressaltar o número inferior ou o superior. Há vários exemplos bíblicos de justaposição numérica, como de “um” ou “dois” (Dt 32.30, Jr 3.14, Jó 33.14, 40.5, Sl 62.12), de “dois” ou “três” (2Rs 9.32, Is 17.6, Os 6.2, Am 4.8), de “três” ou “quatro” (Jr 36.23, Am 1.3-11, Pv 21.19, 30.15,18), de “quatro” ou “cinco” (Is 17.6), de “seis” ou “sete” (Jó 5.19, Pv 6.16) e de “sete” ou “oito” (Mq 5.5, Ec 11.2).[5]

Apesar de muitos intérpretes verem na ordem de repartir as posses uma instrução que incentiva a generosidade de compartilhar seus bens, o conselho parece ser o de, prevendo possíveis e desconhecidas ocorrências danosas, tentar garantir que a calamidade não se abata do mesmo modo sobre todo o patrimônio e os investimentos de alguém. O texto clássico utilizado para exemplificar esse tipo de providência é aquele em que Jacó, sem saber como seria seu reencontro com Esaú, divide sua família e seus rebanhos em dois grupos. A ideia de Jacó foi que, caso Esaú ainda guardasse ressentimentos e quisesse vingança, seu ataque atingisse apenas um dos grupos enquanto o outro fugia a salvo (Gn 32.7-8). Do mesmo modo, o sábio, que vive em um mundo tão contraditório e cheio de surpresas, deve estar pronto para enfrentar contratempos sem que eles atinjam toda sua fonte de renda e segurança.

Ao que parece, Salomão exorta seus leitores a assumir um esforço constante e diligente, além de empreender investimentos prudentes e diversificados, reconhecendo que tudo está sob o controle soberano de Deus. A ideia de ficar parado esperando a provisão divina não é algo que passa pela mente do escritor, não por que ele não creia no poder ou na soberania do Senhor, mas porque reconhece que essa não é a atitude sábia de um servo de Deus ou de alguém razoável e responsável.

O segundo conselho é introduzido por duas comparações que encontram eco no versículo seguinte (v.3): “Quando as nuvens se enchem, elas descarregam a chuva sobre a terra. Quando uma árvore cai — seja para o Sul ou para o Norte —, fica bem ali, no lugar em que caiu”. Apesar de haver estudiosos que liguem essas figuras ao versículo anterior, o quiasma que elas formam com o versículo 4 faz com que, preferivelmente, sejam vistas como introdução para a lição de ordem prática que virá na sequência. O fato é que tais figuras representam a previsibilidade e a imprevisibilidade dos acontecimentos. A previsibilidade de certas ocorrências pode ser vista no conhecimento que o homem tem de que a “chuva” vai cair depois que as “nuvens” ficam carregadas. Desse modo, é possível tomar algumas providências a tempo, como, por exemplo, procurar abrigo e recolher utensílios que não devem ser molhados. Ainda assim, mesmo prevendo acontecimentos como uma chuva iminente, não é possível evitar todas as suas consequências, ficando a mercê dos acontecimentos.

Por outro lado, vendavais, que conseguem fazer com que árvores sejam desarraigadas e caiam, não são tão fáceis de prever. Como forças impetuosas, ventos assim — vindos do “Norte” ou do “Sul” — põem abaixo árvores que parecem inabaláveis. Elas tombam conforme a força do vendaval e não conforme algum planejamento prévio. Na verdade, elas podem até causar muitos danos ao desabar sobre lugares inesperados e em momentos imprevisíveis. O fato é que não é possível estar pronto ou preparado para todas as eventualidades da vida, o que torna a vida arriscada, assim como os investimentos que visam a garantir a subsistência das pessoas.

Sejam males previsíveis ou imprevisíveis, o conselho do escritor é que o sábio deve cumprir suas responsabilidades do mesmo modo, sem ser impedido por dificuldades que ele espera ou que não espera (v.4): “Quem fica observando o vento, não planta e quem fica olhando as nuvens, não colhe”. A estrutura quiasmática é formada pelas figuras das “nuvens” e do “vento”, no versículo 3, seguidas por menções ao “vento” e às “nuvens”, no versículo 4. Porém, enquanto o versículo 3 aborda figuras comparativas, aqui o autor exorta quem dá mais importância às observações dos acontecimentos do que às suas tarefas e responsabilidades. Esse provérbio critica aqueles que são excessivamente cautelosos.

O agricultor que espera o momento mais oportuno para plantar — quando não há vento para soprar a semente — e para colher — quando não há chuva para arruinar uma colheita madura — nunca fará nada além de esperar o momento certo. É claro que alguém pode argumentar que é sábio observar as circunstâncias para não fazer algo no momento errado. Isso é verdade, a não ser que tal observação conduza não ao momento apropriado, mas à inatividade por se esperar o momento “perfeito”, o qual normalmente não ocorre nem é possível prever. Isso quer dizer que o homem deve primar pela cautela e pelo preparo, mas não pode se deixar paralisar diante de incertezas.

O último conselho nessa área começa expondo a limitação do conhecimento dos homens diante das ações e dos propósitos do Senhor (v.5): “Assim como não há quem conheça os caminhos do vento, nem como se formam os ossos no ventre da gestante, do mesmo modo não há quem conheça as obras de Deus, o qual faz todas as coisas”. Esse é mais um versículo que divide os intérpretes. Visto que a palavra “vento” também pode significar “espírito”, há quem proponha que o sentido da primeira parte do texto seja algo que aponta para o fato de que “ninguém sabe como o espírito se junta aos ossos no ventre da gestante” — ou versões ligeiramente diferentes.

Apesar de ser gramaticalmente possível, essa opção não faz jus ao contexto no qual o vento já foi tema nos últimos dois versículos, sem haver qualquer indicação de mudança no sentido da palavra ou na linha de argumentação. Assim, o mais provável é que o autor esteja novamente falando da limitação humana em prever os eventos climáticos que podem se abater sobre ele. Entretanto, para frisar ainda mais o desconhecimento de tais verdades, o autor oferece uma comparação marcante — especialmente para aqueles dias — a respeito do mistério que envolve a formação dos “ossos no ventre da gestante”. É claro que não são apenas os ossos que se formam no ventre, mas todo o feto. Os ossos são uma parte do todo que compõe o novo ser humano gerado. É possível que, ao citar os ossos, ele esteja se referindo à parte interna do corpo que está sendo formado dentro de outro corpo, estando duas vezes encoberto aos olhos humanos e oculto à sua compreensão.

A sabedoria do homem não pode mudar ou sondar a atuação de Deus na natureza ou em qualquer outra área (cf. v.5). Por isso, o autor faz questão de relembrar seus leitores da inescrutabilidade de Deus, ensinando que ela nunca deve servir de desculpa para a inatividade humana. Ao contrário, ela deve ser motivo de o homem assumir a atitude correta tanto diante do Senhor como diante das suas próprias responsabilidades na vida. Por isso, a parte prática do conselho, em vista da limitação humana, é trabalhar de modo redobrado (v.6): “Plante sua semente desde a manhã e não dê descanso às suas mãos até à tarde, pois você não sabe qual esforço dará resultado, se este ou aquele, ou se os dois prosperarão igualmente”. Os trechos “desde a manhã” e “até à tarde” formam uma expressão idiomática que indica totalidade completa, apontando para todo o dia de trabalho por meio dos seus extremos. Quer dizer que o homem deve investir seu tempo em algo proveitoso e não ficar sem fazer nada ou descansar sem ter se cansado. Ao contrário, deve passar seu dia em meio ao esforço que produzirá aquilo que ele precisa e o que servirá para a glória do seu Senhor. Mais que isso, ele deve se esforçar em diversas áreas de trabalho sabendo que não tem poder para fazer qualquer uma delas dar os resultados que ele pretende. É claro que alguém pode olhar para essa limitação humana e desistir do esforço, mas o correto e sábio é redobrar os esforços para que um, ou outro, ou todos os esforços atinjam o êxito desejado.

Olhando para a mensagem dos versículos 5 e 6, chega-se à conclusão de que, já que os caminhos de Deus são misteriosos, a pessoa deve trabalhar duro e evitar o ócio. É certo que muitas ocorrências que não se esperam podem atrapalhar e até impedir os esforços de alguém. Mesmo assim, a lição que o Pregador quer ter certeza de que seus leitores aprenderão é que, apesar de os acontecimentos serem inesperados (cf. 9.11), os bons resultados não vêm da sorte, mas da diligência. A conclusão é que a incerteza quanto ao futuro não deve impedir que o indivíduo cumpra suas responsabilidades, mas que enfrente a vida com diligência e entusiasmo.

Poucas mensagens nos parecem tão atuais como essa. É claro que isso nos dá uma boa noção de que, apesar de o mundo ter mudado tanto ao longo dos séculos, as pessoas e suas condições de vida têm sido as mesmas ao longo da história. Essa é uma ótima razão para ouvirmos os conselhos atuais do Pregador e aplicá-los em nosso dia a dia, tornando-nos exemplos a serem seguidos por outros, não apenas em razão do trabalho, mas também do conhecimento de Deus e da fé no salvador Jesus Cristo. Por isso, precisamos ser previdentes, preparando-nos para os bons e maus momentos do futuro. Temos de nos preparar para acontecimentos inesperados e inevitáveis que eventualmente nos atingirão. E devemos nos esforçar e trabalhar duro, esperando em Deus a concretização dos nossos labores. Feito isso, podemos, também, aproveitar a vida com alegria e entusiasmo, como um presente dado a nós pelo próprio Senhor (cf. 11.7-10). Que ele nos ajude!


Pr. Thomas Tronco

sábado, 21 de janeiro de 2017

ATOS PROFÉTICOS - É BÍBLICO?

Antes de qualquer coisa é preciso dizer que a intenção deste artigo não é denegrir a imagem de ninguém e nem difamar quem quer que seja, especialmente porque acreditamos sempre que existe a possibilidade de arrependimento e mudança de atitude diante de uma postura errada, principalmente porque, como cristãos, devemos sempre esperar que aja o exercício do arrependimento, confissão e perdão (2Cr 7:14).

Um dos problemas mais comuns e recorrentes na igreja evangélica brasileira diz respeito às falhas de interpretação bíblica, quando alguns textos são distorcidos, ora propositalmente ora por imperícia, imprudência ou negligência. De uma forma ou de outra, a utilização inadequada de um texto ou de uma passagem bíblica tem levado muitas pessoas ao engano e ao erro. É exatamente isso o que ocorre com as práticas dos atos proféticos, tão comuns entre aqueles que seguem o Movimento da Fé.

Mas, afinal de contas, o que é um ato profético?

René Terranova, que foi ungido apóstolo, depois “paipóstolo” e Patriarca, por Morris Cerrullo, tem se destacado como um dos principais líderes defensores do Ato Profético no Brasil. Ele diz: “A linguagem profética traz ao reino físico a existência do mundo espiritual. Na maioria dos seus discursos, Jesus falava de uma forma espiritual e o povo entendia na forma física, porque lhes faltava discernimento espiritual” (TERRANOVA, 2009) [1].

Ainda, o grupo Reavivamento Europa dá a seguinte definição para Ato Profético:
Como o nome já sugere são ações realizadas por homens, profetas de Deus com determinado sentido profético, com intuito de profetizar com ações e símbolos. São sinais que apontam para o reino espiritual e que tem conseqüências no reino físico. São ações expressas em atitudes e palavras [2].
Então, na visão dos seguidores do Movimento da Fé, o Ato Profético seria uma ação envolta em simbologia que supostamente traria ao mundo físico as realidades espirituais. Para isso, os defensores desse pensamento utilizam passagens bíblicas, especialmente do Antigo Testamento, em que Deus manda que os profetas utilizem símbolos para transmitir a Sua mensagem, a exemplo dos umbrais das portas com sangue na noite da décima praga do Egito (Ex 12), a pregação sem roupas de Isaías (Is 20:3-4), as sete voltas em torno de Jericó (Josué), a canga de Jeremias (Jr 27:2), o cinto de linho enterrado às margens do rio Eufrates (Jr 13:1-11), a botija de barro quebrada diante do povo (Jr 19:1-11) etc.

Em primeiro lugar, as ações praticadas pelos profetas bíblicos não traziam nada à existência, como afirmam os seguidores do Movimento da Fé. Antes, tinham um caráter didático de ensino, instrução e orientação para o povo de Deus, a exemplo do profeta Oséias que casou com uma prostituta. A ação de Oséias, ordenada por Deus, visava fazer o povo entender que havia se prostituído diante do Senhor, mas que Ele, o Senhor, continuava fiel ao Seu povo (Os 3) buscando tirá-lo da prostituição, assim como Oséias fez com aquela mulher. Essa passagem bíblica nos mostra que a situação de Gômer, a prostituta, era a mesma situação do povo de Israel. Esse meio didático utilizado por Deus só demonstra que o povo estava em prostituição.

Essas ações proféticas encontradas na Bíblia não trazem à existência coisas espirituais. Elas tinham um caráter didático para corrigir o povo, ensinar o povo ou trazer juízo sobre um povo. Por isso diz-se que tais ações fazem parte dos atos salvadores de Deus na história.

Por essa razão é que o escritor aos Hebreus declara:
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4)
Em segundo lugar, a interpretação bíblica é distorcida com os Atos Proféticos da atualidade. Isso ocorre porque tais pessoas confundem o que é relato histórico e o que é ordem direta.

Um relato histórico é a descrição de algo que ocorreu no passado. Por exemplo, a Escritura relata que Judas traiu Jesus. E mais, a Bíblia revela que o próprio Jesus disse: “O que fazes, faze-o depressa” (Jo 13:27). Ainda, a Bíblia revela que Deus disse à Moisés: “tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (Ex 3:5). Ainda, a Bíblia revela que Jesus “cuspiu na terra e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego” (Jo 9:6). Ainda, a Bíblia revela que quando os sacerdotes entrassem na tenda da congregação, ou quando fossem ministrar no altar, deveriam lavar as mãos e os pés com água para não morrerem, e “isto lhes será por estatuto perpétuo, a ele e à sua posteridade, através de suas gerações” (Ex 30:20,21). Ou seja, se um relato bíblico e histórico é entendido como uma ordem para o povo de Deus e deve ser visto em forma de Ato Profético, deveríamos, então, trair Jesus, pois Ele mesmo disse “O que fazes, faze-o depressa”; deveríamos tirar as sandálias toda vez que entrássemos na presença de Deus em oração, na igreja ou em uma reunião espiritual com irmãos (Ex 3:5); deveríamos cuspir na terra e fazer “lodo” para passar nos olhos dos cegos para os quais oramos (Jo 9:6); deveríamos lavar as mãos e os pés todas as vezes que fôssemos oferecer algum tipo de serviço ao Senhor, para não sermos mortos (Ex 30:20,21) etc.

O fato é que esses atos, encontrados em sua grande maioria no Antigo Testamento, são direcionados à um povo, evento ou situação específica, e a Bíblia está apenas relatando o que houve. A Bíblia não está estabelecendo uma regra ou dizendo que deveríamos reproduzir o ato. Ainda, o leitor da Bíblia deve observar o que o texto está dizendo, para quem está dizendo e para quando está dizendo. Muitas vezes algumas pessoas erram porque se apropriam de promessas que dizem respeito ao povo de Israel no Antigo Testamento, como se isso dissesse respeito a nós hoje. Portanto, uma coisa é a Bíblia relatar um fato, e outra coisa completamente diferente é a Bíblia dar uma ordem direta e aplicável a nós hoje, como essa:
Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor. (1Co 5:11-13)
Em terceiro lugar, erram por ignorar a suficiência das Escrituras.

A busca por Atos Proféticos é gerada pela sensação de que a Bíblia não é suficiente para nos falar, para nos corrigir e nem para nos orientar, e muito menos para suprir nossas reais necessidades.

O apóstolo Paulo alerta seu discípulo Timóteo sobre isso:

Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério. (2Tm 4:1-5) Exatamente por essa razão, Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22:29).

O fato é que tais pessoas sentem a necessidade de algo mais, de uma nova experiência. Isso ocorre porque se afastaram dos princípios elementares da fé cristã e do Sola Scriptura. Para estes a Sagrada Escritura já não é suficiente, pois buscam algo mais. Contudo, esquecem que os atos dos profetas no Antigo Testamento, normalmente, estavam relacionados com o afastamento do povo dos princípios estabelecidos pelo Senhor, e como este povo estava negligenciando a Sagrada Escritura, Deus usa de outro meio para lhes falar ao coração. Por isso, ao buscar um suposto e hipotético Ato Profético estão apenas confessando publicamente o quão distante se encontram da Bíblia Sagrada.
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Em quarto lugar, erram na contextualização e na aplicação dos princípios bíblicos.

Um exemplo que pode ser citado para ilustrar a questão é a armadura de Deus, em Efésios 6:10-20. Ali, naquele Texto, o apóstolo Paulo utiliza o artifício da ilustração para falar de verdades espirituais, e essas verdades são ilustradas através de uma realidade física. Ou seja, Paulo usa a armadura romana para falar da verdade da batalha espiritual, alicerçada no Evangelho da Paz (sandálias), Justiça (couraça), Salvação (capacete), Fé (escudo) e a Palavra de Deus (espada). Isso não quer dizer que o cristão tenha que usar uma armadura de verdade, ou que tenha que ter miniaturas de armaduras em sua casa como uma mandala, patuá ou amuleto, para estar protegido, pois isso seria superstição. Da mesma forma, os atos encontrados no Antigo Testamento, por exemplo, não precisam ser repetidos em nosso meio hoje, pois semelhantemente isso seria superstição, ou no mínimo seria o mesmo que achar que um método pode substituir ou provocar a ação do Espírito Santo, o que seria recair no erro do pragmatismo. Mas, é exatamente isso o que tem acontecido, quando essas “práticas” e “ações” são executadas com a finalidade de “bloquear”, “anular”, “derrubar” ou “vencer” fortalezas espirituais. Isso é o mesmo que os espíritas fazem ao usar sabonetes e sal grosso para tomar banhos de descarrego, ou usar alguns pós com supostos poderes especiais que acreditam poder livrar as pessoas de mal olhado, ou quando usam o pé de pinhão roxo para proteger suas casas e comércios, ou quando fazem um despacho para, supostamente, fechar o corpo contra maus espíritos. Tudo isso não passa de superstição, paganismo, feitiçaria e macumbaria.

Além do mais, é preciso destacar que não encontramos nenhuma ordem bíblica para que façamos tais coisas. É preciso relembrarmos que uma coisa é a Bíblia relatar algo que ocorreu, e outra, completamente diferente, é a Bíblia ordenar que pratiquemos algo.

Por isso, mais uma vez é preciso repetir o que o escritor aos Hebreus declara:
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, NESTES ÚLTIMOS DIAS, NOS FALOU PELO FILHO, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4)
Portanto, no passado Deus utilizou alguns meios didáticos para ensinar o povo e conduzi-los à verdade da chegada e da presença do Messias, Jesus Cristo. Mas, a partir de Jesus o meio que Deus tem utilizado é o próprio Jesus, mediante a ação do Espírito Santo, por meio da Sagrada Escritura. Se no passado Deus usou, por exemplo, o Urim e o Tumim (Ex 28:30), hoje Ele usa a Sua Sagrada Palavra, revelada aos Seus filhos.
Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar. (Hb 4:12-13) Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra. (2 Tm 3:14-17)
A TRANSFERÊNCIA DE GERAÇÃO COMO UM ATO PROFÉTICO

A ideia de “Transferência de Geração”, praticada pelo grupo Diante do Trono, é caracterizada simplesmente como uma distorção e afastamento das Escrituras, baseada em manipulações de datas.

ASSISTA O VÍDEO DA TRANSFERÊNCIA DE GERAÇÃO NO 15º CONGRESSO DE ADORAÇÃO E INTERCESSÃO DIANTE DO TRONO

O argumento utilizado para se defender a “Transferência de Geração” é de que existe uma promessa em Joel 1:3, em que são citadas cinco gerações, sabendo que uma geração dura em torno de 40 anos. Além disso, afirmam que um país só é considerado como tal após a sua independência, e como a independência do Brasil só ocorreu no dia 7 de setembro de 1822, a promessa de Deus é conduzida até meados dos anos 1980. Os defensores deste pensamento afirmam especificamente o ano de 1982. Então, essa geração de 1982 seria a responsável por promulgar um santo jejum, convocar uma assembleia solene, congregar todos os anciãos e todos os moradores da terra para a Casa do SENHOR e clamar à Ele (Joel 1:14).

O primeiro problema com o argumento utilizado é para quem foi destinada a promessa de Joel 1:3. Para quem o Texto está falando?

O contexto do livro de Joel diz respeito a devastação da terra por uma dupla praga, de locustas [3] e seca. Então, a promessa de Joel é de que se o povo de Israel voltar à adoração do Deus verdadeiro, a sua terra será restaurada, tanto da praga dos gafanhotos como da seca. Portanto, essa profecia diz respeito às pragas derramadas sobre o próprio povo de Deus por sua apostasia, na época de Joel. Dessa forma, se o fundamento para a transferência de Gerações, praticada pelo Diante do Trono, é o texto de Joel, então esse grupo está confessando publicamente a sua apostasia, assim como foi com o povo do profeta Joel.

O profeta Joel alerta o povo de que essa praga não deveria ser esquecida, e, por isso, precisava ser relembrada às gerações futuras para que estas gerações entendessem que ela era a representação de um juízo ainda maior no porvir. Se esta praga foi terrível, o Dia do Senhor será muito mais (Jl 2:1-11). Portanto, o que deveria ser lembrado às gerações futuras era o derramamento do juízo de Deus, que não tem nenhuma relação com a suposta Transferência de Gerações.

O segundo problema com o argumento utilizado é que não há nenhuma evidência bíblica de que uma geração dure 40 anos, como essas pessoas desejam.

Orlando Boyer afirmou que a geração é a “duração média da vida de um homem” (1998, p.292) [4], e Werner Kaschel e Rudi Zimmer afirmaram que uma geração é a “sucessão de descendentes em linha reta: pais, filhos, netos, bisnetos, trinetos, tataranetos (Sl 112.2; Mt 1.17)” (1999, p.79) [5], ainda afirmaram que geração pode ser o “conjunto de pessoas vivas numa mesma época” (Idem).

Então, o texto bíblico de Mateus 1:17 nos diz que de Abraão até Davi são 14 gerações, em que temos um tempo médio de mil anos. Portanto, cada geração dura em média 71 anos. Ainda, o Salmo 90:10 nos diz que “os dias da nossa vida chegam a setenta anos”, que é a duração média de uma vida. Portanto, aqui, uma geração dura em média 70 anos.

Com isso, não há nada que faça pensar que uma geração dure 40 anos, como pretendem os defensores dos Atos Proféticos e da Transferência de Geração.

O terceiro problema com o argumento utilizado é afirmar que um país só é considerado como tal após a sua independência. Mas a promessa de Joel não tem nenhuma relação com a formação de um país, especialmente porque o Israel étnico sempre existiu como nação, preservando a sua cultura e religiosidade, até mesmo quando não tinha um território, e mesmo durante os cativeiros. Ainda, este povo só passou a ser reconhecido como um país em 1948, quando foi fundado o Estado Moderno de Israel.

O quarto problema com o argumento utilizado é tentar fazer uma correlação entre esta profecia e o Brasil. Não existe nada no texto, absolutamente nada, que dê chance para isso. Dessa forma, podemos ver claramente como esses grupos distorcem a Bíblia deliberadamente e como fazem isso contando sempre com a falta de conhecimento, falta de discernimento e falta de entendimento do povo. Esse é um claro exemplo de como a Bíblia tem sido tratada com desprezo e descaso por esses grupos.

Para piorar a situação, ainda mais, utilizam os textos de 1Samuel 16:13 e 2Coríntios 3:4-6 para fundamentar a prática de Transferência de Geração. Vejamos os textos:
Tomou Samuel o chifre do azeite e o ungiu no meio de seus irmãos; e, daquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e foi para Ramá. (1Sm 16:13)
E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. (2Co 3:4-6)
O texto de 1Sm 16:13 relata o encontro entre Davi e Samuel, quando Davi foi ungido pela primeira vez. Esse texto fala da chamada de Davi ao trono de Israel, mas não pode ser visto como algo que se repete nos dias de hoje, especialmente porque o texto diz que nesse momento, com Davi, o Espírito do SENHOR se apossou dele. Contudo, na Nova Aliança o Espírito Santo se apossa do convertido no momento da conversão. Por isso que o apóstolo Paulo nos diz que “em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Co 12:13). E diz mais, pois “não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8:9). Portanto, não podemos afirmar que o fato de alguém ser ungido com azeite nos dias de hoje é o princípio para a chegada do Espírito Santo e nem para a Sua descida. Muito menos que é sinal da aprovação Divina.

O que vemos com isso, mais uma vez, é a apropriação indevida de um texto que está em outro contexto, dentro de outra Aliança e que é dirigido à outra pessoa. Um texto que é descritivo e que é manipulado para parecer uma ordem direta ou orientação Divina para sua repetição na atualidade.

O texto de 2 Coríntios 3:4-6 é outro que tem sido muito distorcido e mal interpretado por muitas pessoas. Essa passagem diz respeito a Nova Aliança, em que todo membro é um sacerdote, diferente da antiga Aliança. Se na antiga Aliança havia um grupo exclusivo de sacerdotes, na Nova Aliança todo membro é um ministro e sacerdote, como pode ser visto aqui. Portanto, todo aquele que nasceu de novo é um ministro da Nova Aliança, e esta Aliança não é da letra, ou seja, não é igual àquela que foi gravada com letras em pedras (3:7), porque a letra mata (3:6). Mas que letra é essa? Como já foi dito, é a letra que foi gravada em pedras (3:7), isto é, a Lei que foi dada à Moisés. Esta letra que mata, portanto, não tem nenhuma relação com o estudo ou pesquisa, mas com a Lei do Antigo Testamento.

Nesse sentido, Moisés fez algo que poderia ser visto como um ato profético, pois ele passou a usar um véu sobre a face. Porém, o apóstolo diz que “não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia” (3:13), e que para alguns, “até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido” (3:14). Por isso, não precisamos de certos artifícios, porque se essa letra em tábuas de pedra é vista como “ministério da condenação”, devemos entender que “em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça” (3:9), que é o que vivemos hoje na Nova Aliança. E este véu, usado por Moisés, foi apenas um artifício utilizado por ele para que o povo não percebesse que a glória de Deus estava desvanecendo. Portanto, o uso desse tipo de prática, nos dias de hoje, é apenas uma tentativa de ludibriar o povo, um artifício, para que este pense que a glória de Deus está presente ali, naquele “rosto”.

Por isso, não precisamos de Atos Proféticos e nem de unções descabidas.

Por isso, podemos ver com clareza como esses grupos distorcem a Sagrada Escritura, a exemplo da utilização de 2Coríntios 3:17: “Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade”.

Bem, a liberdade quando é do Senhor nem dá lugar à carne (Gl 5:13), nem deturpa a verdade do Evangelho (1Pe 2:16) e nem causa escândalo (2 Co 6:3). Já que esse não tem sido o caso desses grupos só podemos concluir, biblicamente, que essa liberdade que têm utilizado não provém de Deus e que mais uma vez o texto bíblico utilizado não fundamenta as suas práticas.

Por último, só para entender com mais clareza como a prática do Ato Profético é uma distorção e como tem sido utilizada para fins antibíblicos, vejamos o que René Terranova diz sobre a relação que existe entre Ato Profético, mapeamento de genealogia e maldição hereditária:
A Bíblia relata que os judeus davam muita importância à genealogia, ao conhecimento de suas origens. Os judeus ortodoxos têm o costume de registrar a genealogia de suas famílias. Nós poderíamos ter essa cultura, mas nossa história é muito mal formada. Mal conhecemos a identidade de nossos pais, muito menos do nosso povo e nem sabemos como retratar nossa árvore genealógica.Um dos nomes de Jesus é Raiz de Davi, porque no contexto messiânico se Jesus não fosse a Raiz de Davi, não seria o Messias (Mt. 1). Em certas ocasiões, poderemos tentar uma conquista de território, mas nosso argumento genealógico poderá ser empecilho por não termos respaldo local ou não termos um nome de família honrado. Deus pode mudar esse quadro restaurando a nossa genealogia com um ato profético de quebra de maldições dos antepassados. Procure pelo menos descobrir quem foram seus familiares até a quarta geração que lhe antecedeu. Quando resgatamos a nossa história genealógica conhecendo nossas origens, fica mais fácil quebrar maldições hereditárias [6].
Contudo, Colin Brown Lothar demonstra que esse tipo de pensamento não passa de uma heresia, e que já era praticada por grupos anticristãos a exemplo do gnosticismo, ebionismo e pelos defensores dos misticismos judaicos:
Genealogia ocorre no NT somente em 1Tm 1:4 e Tt 3:9, e alude especificamente à prática de pesquisar a árvore genealógica a fim de estabelecer a descendência. Segundo qualquer exegese direta, aqueles que assim faziam somente podem ter sido judeus, que, a partir de genealogias do AT e de outras, estavam propagando todos os tipos de “mitos judaicos”, bem como, provavelmente, especulações gnósticas pré-cristãs. É também possível que os ebionitas empregassem argumentos semelhantes para atacarem a doutrina do nascimento milagroso de Jesus que circulava na igreja cristã [7]. Portanto, a única coisa que podemos perceber com tudo isso é que estamos simplesmente presenciando o surgimento de heresia em cima de heresia e que não há nada novo debaixo do sol (Ec 1:9).

Por Robson T. Fernandes

Que Deus nos ajude.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

PURITANISMO

O Puritanismo foi um movimento que surgiu dentro do protestantismo britânico no final do século 16. A Inglaterra estava separada da submissão papal, mas não da doutrina, liturgia, e ética católica. O rei inglês Henrique VIII por motivos pessoais, e não por convicção teológica liderou uma reforma política no Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de Gales) que defendia o rompimento com a Igreja Católica Romana, vindo a originar-se a Igreja Anglicana. O monarca inglês faleceu e o seu filho, Eduardo VI, tornou-se rei em seu lugar. O jovem regente inglês possuía conselheiros influenciados pela Reforma protestante. Alguns teólogos e professores foram convidados para liderar a Reforma na Inglaterra. Entretanto, este projeto não foi adiante, pois o novo rei veio a falecer prematuramente. A sua irmã mais velha, Maria Tudor, a sangüinária, assumiu o trono ordenando a morte de todos os protestantes, prendendo e expulsando muitos outros do Reino Unido.

Em 1559, Elizabeth sucedeu à sua meia-irmã Maria Tudor. A nova rainha da Inglaterra era simpatizante da Reforma. Ainda em 1559, solicitou a revisão do Livro Comum de Oração, e editou em 1562, os 39 Artigos de Fé como padrão doutrinário da Igreja Anglicana. Autorizou a volta dos reformadores ingleses exilados. Todavia, os que retornaram estavam insatisfeitos com a lenta e parcial Reforma eclesiástica que Elizabeth estava realizando. Justo L. González comenta que os que foram expulsos “trouxeram consigo fortes convicções calvinistas, de modo que o Calvinismo se estendeu por todo o país.” Eles haviam contemplado o que os princípios da Reforma poderiam fazer em outros países, agora estavam comprometidos em aplicá-los em sua terra natal.

Os que defendiam que a Igreja Anglicana carecia duma completa Reforma foram apelidados jocosamente de "puritanos". De fato, os puritanos acreditavam que a igreja inglesa necessitava ser purificada dos resquícios do romanismo. Eles clamavam por pureza teológica, litúrgica, e moral! Henrique VIII embora discordasse da Igreja Católica acerca dos seus divórcios, ele morreu sustentando o título de Defensor da fé Católica. Mas, os puritanos também ansiavam por mudanças litúrgicas, pois, mesmo a Inglaterra se declarando protestante, a missa ainda era rezada em latim, eram usadas as vestimentas clericais, velas nos altares, e o calendário litúrgico e as imagens de santos eram preservadas. Era uma incoerente ofensa aos reformadores ingleses.

A começar pela liderança da Igreja, a prática do evangelho não estava sendo observada. Os puritanos exigiam não apenas mudanças externas, religiosas e políticas, mas mudança de valores, manifesto numa ética que agradasse a Deus, de conformidade com a Palavra de Deus. Foi por causa deste último ponto que o apelido puritano tornou-se mais conhecido. Eles eram considerados puros demais, porque queriam ter uma vida cristã coerente com a Escritura!Infelizmente, uma caricatura horrível é feita deste movimento. Não poucas vezes os puritanos são criticados e mencionados com desdenho; entretanto, isto apenas evidencia a ignorância acerca da grandiosidade da obra e esforço destes homens e mulheres. Muitos perderam a sua vida por serem zelosos com o estudo e ensino das Escrituras Sagradas, por viver consistentemente o puro evangelho de Cristo!


O presbiterianismo é herdeiro direto deste movimento. Os Padrões de Fé de Westminster são produto da melhor erudição e piedade puritana do século 17. Os presbiterianos que migraram para os EUA, eram todos puritanos. A oração fervorosa, o culto sóbrio e equilibrado, o estudo da Escritura e a pregação da Palavra de Deus, tanto pelo ensino como pela prática de uma vida simples, eram marcas que distinguiam estes homens, que influenciaram o Cristianismo europeu e norte-americano, e que chegou até ao Brasil, através do missionário Rev. Ashbel G. Simonton.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

ANJOS

De maneira essencial e básica, os anjos bons são servos (Hb 1.14). Deus os enviou para servir ou ajudar (diakonian) os salvos e, ao fazer isso, os anjos servem de mensageiros sacerdotais (leitourgika pneumatata) no templo-universo do Todo-poderoso.

I. Em relação a Deus

Em relação a Deus, seu ministério principal é louvar e adorar o Senhor.

1. Eles o louvam (Sl 148.1-2; Is 6.3).
2. Eles o adoram (Hb 1.6; Ap 5.8-13).
3. Eles se regozijam com os seus feitos (Jó 38.6,7).
4. Eles o servem (Sl 103.20; Ap 22.9).
5. Eles se apresentam diante dele (Jó 1.6; 2.1).
6. Eles são instrumentos do juízo divino (Ap 7.1; 8.2).

II. Em relação aos tempos

Os anjos pareciam estar especialmente ativos quando Deus instituiu uma nova era na história.

1. Eles se reuniram para louvá-lo quando a Terra foi criada (Jó 38.6-7).
2. Estavam envolvidos quando a Lei mosaica foi entregue (Gl 3.19; Hb 2.2).
3. Estavam ativos na Primeira Vinda de Cristo (Mt 1.20; 4.11).
4. Estavam ativos durante os primeiros anos da Igreja (At 8.26; 10.3-7; 12.11).
5. Estarão envolvidos nos eventos relacionados à Segunda Vinda de Cristo (Mt 25.31; 1Ts 4.16).

III. Em relação ao ministério de Cristo

A. Em seu nascimento

1. Previsão. Gabriel predisse o nascimento de Jesus (Mt 1.20; Lc 1.26-28).
2. Anúncio. Um anjo anunciou o nascimento de Jesus aos pastores e foi acompanhado em seu louvor por uma multidão de anjos (Lc 2.8-15).

B. Durante sua vida

1. Alerta. Um anjo alertou José e Maria a que fugissem para o Egito, escapando, assim, da ira de Herodes (Mt 2.13-15).
2. Direção. Um anjo orientou a família para retornar a Israel após a morte de Herodes (Mt 2.19-21).
3. Ministração. Anjos ministraram a Jesus após sua tentação no deserto (Mt 4.11) e seu conflito no Getsêmani (Lc 22.43).
4. Defesa. Jesus disse que havia legiões de anjos preparadas para defendê-lo se ele os chamasse (Mt 26.53).

C. Após sua ressurreição

1. Na pedra. Um anjo rolou para longe a pedra que fechava a entrada do sepulcro de Jesus (Mt 28.1-2).
2. Anúncio. Anjos anunciaram a ressurreição para as mulheres na manhã do domingo de Páscoa (Mt 28.5,6; Lc 24.5-7).
3. Ascensão. Anjos estavam presentes na ascensão de Jesus (At 1.10-11).

D. Na Segunda Vinda de Jesus

1. Arrebatamento. A voz do arcanjo será ouvida no arrebatamento da Igreja (1Ts 4.16).
2. Segunda Vinda. Os anjos vão acompanhá-lo na Segunda Vinda (Mt 25.31; 2Ts 1.7).
3. Juízo. Os anjos vão separar o joio do trigo na Segunda Vinda (Mt 13.39-40).

IV. Em relação às nações da Terra

A. Em relação à nação de Israel

O arcanjo Miguel guarda Israel de maneira especial (Dn 12.1).

B. Em relação às outras nações

Os anjos protegem governantes e nações (Dn 4.17) e procuram influenciar seus líderes humanos (10.21; 11.1).
Eles estarão envolvidos nos juízos de Deus durante os anos da tribulação vindoura (Ap 8,9,16).

V. Em relação aos ímpios

1. Os anjos anunciam os juízos iminentes (Gn 19.13; Ap 14.6,7; 19.17-18).
2. Os anjos infligem o juízo divino sobre os ímpios (At 12.23; Ap 16.1).
3. Os anjos vão separar os justos dos ímpios no fim dos tempos (Mt 13.39-40).

VI. Em relação à igreja

A. Ministério básico

Seu ministério básico é servir os salvos (Hb 1.14).

B. Ministério geral

Os anjos estão envolvidos na comunicação e na revelação do significado da verdade, da qual a Igreja, hoje em dia, se beneficia (Dn 7.15-27; 8.13-26; 9.20-27; Ap 1.1; 22.6-8).

C. Ministérios específicos

1. Pedidos de oração. Levam as respostas das orações (At 12.5-10).
2. Salvação. Ajudam nos esforços evangelísticos dos cristãos (At 8.26; 10.3).
3. Observação. Observam as experiências, o trabalho e os sofrimentos dos cristãos (1Co 4.9; 11.10; Ef 3.10; 1Pe 1.12).
4. Encorajamento. Incitam à coragem nas horas de perigo (At 27.23-24).
5. Presentes na morte. Ministram aos justos na hora de sua morte (Lc 16.22).

Não sabemos com certeza se os anjos continuam a operar de todas essas maneiras até hoje. Porém, no passado eles ministraram dessas maneiras e podem muito bem continuar agindo assim, mesmo que não estejamos cientes disso. Deus, claro, não é obrigado a usar anjos, pois pode fazer tudo isso diretamente.

Porém, em muitas ocasiões, aparentemente escolheu utilizar o ministério intermediário dos anjos. Mesmo assim, o cristão reconhece que é o Senhor quem faz todas as coisas, seja de forma direta, seja por intermédio de seus anjos (veja o testemunho de Pedro reconhecendo que o Senhor o libertou da prisão, embora Deus tenha usado um anjo para fazer isso — Atos 12.7-10 comparado com os versículos 11 e 17).

Talvez a inscrição que vi, certa vez, em uma antiga igreja na Escócia sirva para mostrar bem esse equilíbrio:

“O poder de Deus é suficiente para nos governar; mesmo assim, para suprir as fraquezas do homem, ele enviou seus anjos para cuidar de nós”. Provavelmente, a afirmação de que os anjos observam a conduta dos remidos assusta-nos tanto quanto qualquer uma das verdades acerca de seres angelicais. A razão de seu interesse por nós talvez seja o fato de não poderem experimentar a salvação pessoalmente. Então, a única maneira de ver os efeitos da salvação é observar o que ocorre com os seres humanos que são salvos. A verdade é que fazemos parte de um “teatro”, em que o mundo, os seres humanos e os anjos formam a plateia (1Co 4.9). Devemos desempenhar bem nosso papel diante deles e de Deus, pois todas as coisas estão descobertas e patentes aos seus olhos.

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Por Charles C. Ryrie